quarta-feira, 24 de outubro de 2012

na terra dos meninos dos olhos iguais

                                                                                                                 para meus amigos.





Prometeu, acorrentado. Ulisses, atado. Cristo, crucificado. Gozamos de nossa liberdade em uma prisão?

Ou talvez tenha sido sempre assim, não me lembro. Períodos sóbrios são raros apostos em minhas frases. Eu, sujeito sem oração, que rezo a muitos deuses, nunca de joelhos, e sempre com uma taça cheia em mãos.
No entanto hoje está sendo um dia incomum. Hoje meus pensamentos não são sereias nem harpias: Estou lúcido e minha lucidez me guia. Espero continuar assim até o fim desta... Canção?

O mundo dá voltas. Há ordem no caos.
O caos dá voltas na ordem do mundo. Há!
O fio da meada acha-se em meio ao estouro da boiada, nas entrelinhas das letras miúdas ao fim do contrato que se assina sem ler e boa sorte pra você, Iure, Tyego, Serguei, Liuba, Daniel, Juliana, Milla, Stvz, Caio, Gustavo, Lazlo, Lara, Amanda, Davi, Danton, Bonga, Cris, Beca, Rogério, Lapão, Clovix, Nina, Evera, Diego, Chico, Carlos, Micha, Henrique... Tantos nomes, os mesmos olhos. Nas escadarias da Matriz, como eu, queimando fumo, assistindo a vida passar: A terra dos meninos dos olhos iguais, lar dos paraísos artificiais. Vácuo, oásis, clareira e cais. Afinal, de onde não se volta é, justamente, para onde se vai, quer você queira ou não. 

Foi você quem me levou lá, baby, seguindo reto pela contramão, lembra? Nem eu. Estátuas de sal deixadas pra trás praguejando elaborados discursos eloquentes tentando nos roubar a atenção, querendo companhia, quem diria, e há pouco penduravam no pescoço os tesouros da terra, essa mesma que agora queima, é o que dá erguer uma civilização à beira de um vulcão. Castelos de areia só duram até a maré cheia.

A terra dos meninos dos olhos iguais, Tyara, não é, pois, um lugar, é um instante, que passa, mas volta.

As ondas vêm e vão.






quinta-feira, 4 de outubro de 2012

hic! home

Esteriliza-se. Todos sabem o que fazer com um problema irresolúvel. Não há um que não seja solúvel em álcool, ou inflamável, e de qualquer modo extinguível.
Entrou no bar decidido a se dar de mal, e deu-se.
Antes de ser expulso debateu-se, estrebuchou, vomitou, xingou, chorou e mordeu-se, o pobre diabo, um infeliz, um coitado sem sorte, e cheio de hematomas, agora. Eu estava lá, vou contar a história...

Um pouco por pena, mais por falta do que fazer, mesmo.

Era uma vez um bêbado. Ele andava certo por linhas tortas. Nunca quebrou um osso, nunca entrou em cana. Pelo cano várias vezes, via copo, sempre. Daquela vez que entrou no bar decidido a dar-se mal ele parecia até sóbrio, mas isso só durou três doses, doze minutos, algo assim - O tempo anda estranho aqui no fim do mundo, aqui às vezes é verão, e às vezes sim, mas hoje não. Hoje é  um desses dias, um dia como outro qualquer, que tal Domingo? Domingo, então. Entrou no bar decidido, pediu um shot, depois um tiro, depois um cuba libre, uma tequila, um conhaque, outro tiro, e agora sim, verão, enfim. O clima muda, depois de dois tecos e quatro lapadas, vai por mim.

Quem é você, meu caro bêbado?

- Hic! Uma prezepada, essa vida. Vivemos em estado de sítio, em plena capital do país. Sítio. Jaca, manga, cana, acerola... Sítio. Dormimos no toque de recolher, acordamos ao som de helicópteros, à tarde vêm as sirenes. Tudo muito normal, as filas, os baculejos, as câmeras, os blecautes, os suicídios, e qualquer coisa que não for isso é suspeito... Viva o estado de choque, o único de direito! Uma prezepada, uma comédia da qual não é permitido sorrir, tudo muito sério. Meu síndico taca bombas em mim, dia desses fui denunciar um estupro e quase sou preso, e há pouco quase me dou muito mal por não conseguir explicar que eu sou eu, então, você até pode ser feliz, só não pode sorrir. Já percebeu que toda vez que alguém sorri uma sirene toca?

E aí desandou a rir. E antes de ser expulso do bar debateu-se, estrebuchou, chorou e mordeu-se.

Hic!