domingo, 25 de dezembro de 2011

Jesus Don’t Give Tax Breaks to the Rich

feliz natal

contracaô #2

Eu vou lhes dizer no que acredito. Eu acredito no caos, no acaso e na antimatéria. É nisso que acredito. Por isso me fio e nisso me gio. Sendo assim desconfio de quem não crê em nada. Eu creio no nada, também, aliás, na falta de algo mais consistente isso me basta. Gnomos, ninfas, fadas, todo tipo de lorota, causo, piada... Eu acredito em você também, inclusive. Minha fé não tem limites. Já minha paciência, tem.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

hey, ho ho ho: let´s go.

pele de latex, ossos duros de roer, testa de ferro, tv eyes, sangue frio, sorriso coolgate, 1 projeto cultural em cada bolso do terno armani, lá vem ele, crack para os pobres, campanhas anti-crack para os ricos, tiro pra todo lado, um câncer aqui e outro ali, duas guerras futuras já agendadas no notebook. transpirando enxofre mas cheirando à boas intenções, ele entra, senta e pede uma criança, africana, ou asiática, o sexo independe, coloca o infante no colo, despe-lhe os farrapos, arreganha-lhe as pálpebras e lambe-lhe os olhos perplexos, então cutuca seu cu, destampa seu crânio e com um canudinho listrado suga-lhe a imaginação.
- o que tu quer de natal ?
- um playstation.
- o que tu vai ser quando crescer?
- médico, ou advogado.
Ok.
O próximo.

sábado, 26 de novembro de 2011

knock knock

I don't want to be destroyed
I just want to lay on this block of ice
I am one you are two we are three
What for? my connection is your connection,
The sun is shining I see your face
Turning it over I see the clover
The things that I love dear are taking shap

sábado, 19 de novembro de 2011

BatMac



Vascaindies flamengantes, batman, ora se não é o... Ele mesmo, robin. Mas ele não estava em... Pois parece que voltou, não é mesmo, garotinho pródigo?
No outro dia:
Pow. Soc. Vrum.

Fim.

No mais é muita conversa pra pouca ação.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Apelação

Prezados Senhores da Comissão de Avaliação e Seleção do Programa de Intercâmbio e Difusão Cultural,

Eu sei que este trata-se de um projeto humilde e modesto, desprovido da espetaculosidade e pompa tão ao gosto da atual diretriz cultural do país, no entanto venho por meio desta, ainda assim, e em uma atitude desesperada, pedir-lhes que reconsiderem o julgamento prévio que o privou dos míseros vinte e dois pontos necessários à sua aprovação. Senão vejamos: O projeto em questão trata-se da participação de um grupo que atua há dez anos na área de publicações independentes, com dezenas de publicações na praça, muitas delas premiadas e reconhecidamente inovadoras - o que qualquer pesquisa por mais superficial que seja pode facilmente constatar - em uma feira internacional de sua respectiva àrea que existe há mais de dez anos, e cujos organizadores realizam conosco publicações conjuntas, a última delas inclusive inédita no Brasil justamente pela carência de intercâmbio. Este tipo de evento para o qual fomos tão cortesmente convidados é, economicamente e tecnicamente, vital para nossa sobrevivência quanto grupo independente, haja visto que as lojas não nos querem senão para mascar e cuspir fora depois de nos venderem a seus clientes pelo triplo do preço, e as grandes editoras não as queremos nós.
Sendo assim, rogo para que os senhores abram seus olhos e afinem seus ouvidos com este tempo, que certamente não pertence a quem grita mais alto, mas a quem sabe ouvir o som da grama crescer.

Att,

Sirva-se Records, há dez anos falindo sem morrer.

Ps. Ficou bom, titio??

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

domingo, 18 de setembro de 2011

U O E O Z




Chamai-me Ismael, no buraco havia um hobbit, no princípio era o verbo. ET fone home.



Enquanto isso, no caminho de Swan, Proust bebe o chá das cinco servido pelo chapeleiro da Alice de Carroll, a Lucy de Lennon, ideal platônico da de Johansen.


Uma epifania por gole, o caminho de Swan virou uma estrada de tijolos amarelos...

No meio do caminho de Swan havia uma pedra. Havia uma pedra no meio do, topei. Caí. Ergui-me e retomo de onde parei: Era uma vez...


Agora são três. Glub, glub e glub. On the road no meio do caminho de tijolos amarelos com Swan, Tarzã, Taiwan, Shazan e Conan, o bárbaro, por que não?


É preciso sempre ter na manga um ás, quando se está em Oz. E eu estou quase lá.


Pela estrada de Swan afora eu vou bem sozinha levar esses doces quando, de repente, subrepticiamente, ei, ei, Chapeuzinho... Era o Chapeleiro, me dizendo que estava marcando touca em uma boca de lobo, louco que estou.


Rédeas curtas, se o cavalo é de Tróia, recomendou.


Pisei ainda mais fundo.


- Silver, Aiou!


... Just the gold, brother, just the gold. Nada menos.


quarta-feira, 14 de setembro de 2011

24:36

Regozijai-vos. Ninguém sabe o dia e a hora, não é mesmo, Mateus? Chega de perder tempo, chega de nhenhenhem, cheguem mais, ouçam: Chega! Vinteum do doze de doismiledoze é o caralho. Foda-se Sibyl, foda-se Merlin, foda-se Nostradamus e os Maias. O fim do mundo não será porque já foi:


- Ei, brother, quando me avisaram disso aqui a ligação tava meio ruim, então, você pode me dizer o que exatamente é isso?


- É um teste para um emprego


- E pra que diabos todo mundo na mesma sala? Ei, ei, escutem só, eu acho que vão atirar uma faca e trancar a porta e o emprego é de quem sobrar e que deus os ajude porque sou bom com facas, eh! Mas, sério, acho que é uma prova mesmo, mas, por que tenho de assinar esse documento liberando essa informação sob sigilo? Isso não é tudo muito suspeito?


- É um teste para um emprego, comecem a riscar um monte de tracinhos até eu dizer Ok, aí comecem um risco e depois mais tracinhos até eu ficar satisfeita.. Comecem.


IIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII – IIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII – IIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII _


- Parem. Agora contem os traços e anotem nos riscos, depois respondam esse questionário. Amanhã ligamos pra você. Ou não


E isso não é a morte?

Estamos todos mortos, há muito tempo, e onde não há o homem a natureza é estéril, já dizia alguém que sabe das coisas...




Vácuo, portanto. Lázaros. Não há dia nem hora porque o tempo parou, mas, rejubilai-vos, ainda há, e paira e lateja, latente em nós, músculo divino, força de mil vulcões dormentes, voz que clama no deserto da alma humana domesticada por Moloch. Moloch, desde o berço nos latindo que é too late... Mas não é. Não é.

Eu sou.

Regenerai-vos

terça-feira, 6 de setembro de 2011

alegria vai lá



aqui a oia é pesada, ô. bom que só dedo no olho... leite de rosas no café da manhã.


quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Homem Vertical

Na caverna havia um buda. Ao seu redor reuniam-se neanderthais iluminados pelo fogo eterno. Em silêncio, embalados pelo som do vento e sob a luz das mesmas estrelas que iluminam nossas noites, esmerilavam o forame magnum do bebê de Taung, a mandala anatômica por onde Darwin contemplou a evolução.


O fogo queima.

O vento sopra.

As estrelas brilham.


Erga-se, homem! Demonstre algum respeito por teus avós.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Vinte Mil Toalhas Brancas

Vocês terão o que querem, porcos. E quando descobrirem que tudo isso é nada, lembrem-se de mim, aqui, no inferno, banhando meus pés em um rio de merda...
Esperando vocês.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

ta dá

eu vi esse dia se ir. eu vi esse dia chegar. tava uma lua cheia linda de morrer na despedida, um sol de fazer chorar. ninguém então melhor que eu pra dizer: vale a pena viver.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Morrão!



"Sabe o que está faltando? Gente vomitando no palco, quebrando guitarra, os maus comportados. No fundo são todos um bando de Sandys. Tudo cai no ridículo muito cedo e é todo mundo muito bem comportadinho, muito politicamente correto. Acho isso meio sacal"

Guilherme Arantes, grimório vivo do pop









Não faz nem uns 700 anos, que bombava na Índia setentrional uma balada chamada Sati. Nesse ritual sagrado do hinduísmo, a viúva se atirava na pira funerária do falecido no ápice da cremação. Imagine você Comandante! Mas isso era o barato da época. Ao saber disso, tua glândula pineal já lhe irradia termos como barbárie ou misoginia. Mas, tenha em vista que relatos históricos dizem que se tratava de um ato sublime de devoção espiritual e não uma submissão do corpo carnal. Algo como o verdadeiro Nirvana, my friend. Diga aê!

O enterro dos indies vem aí. E é desnecessário dizer que vai ser um sati daqueles. A pira será acesa em dois funerais distintos. Um em cada lado dos trilhos do trem. Sábado, 20 de Agosto, Valdez, Mechanics e Zefirina Bomba esperam os devotos do ódio no Cult 22 Bar, Lago Norte. No domingo, 21, River Phoenix, Valdez, Mechanics, Galinha Preta e Zefirina Bomba queimam as roscas que ainda faltarem no Bar da Toinha, Samambaia. A etiqueta da ocasião sugere perfumar-se com colônia de barbecue ou óleo de peroba. Ajuda bastante o processo.


A convocação está feita. Os indies estão se espalhando depressa. Mais rápido que um compêndio de lados B do Radiohead no megaupload. É seu dever cívico honrar as calças fora de moda que veste e ajudar a erradicar esse mal. Reúna o maior número de hipsters que encontrar nas baladinhas fru fru da cidade e leve-os aos funerais supramencionados para dar uma boa lição do que é rock a esses almofadinhas. Dizem que uma grande pilha de i pods em chamas dá um belo barato.


Quem morrer verá!


por Michel Aleixo, guitarrista do River Phoenix



quinta-feira, 4 de agosto de 2011

O amigo tem um cigarro?

A velha Umbelina me dizia que a esquina é onde o diabo despacha. Ela tinha razão: É lá o escritório dele assim como é no mar onde está deus, isso não precisou ninguém me dizer. deus curte lugares desertos, o diabo aglomerações. deus habita a alma humana, o diabo o inferno, como todos sabem, e o inferno é aqui. Então, se deus cuida da casa, o diabo vagueia pela rua. Hoje ele me pediu um cigarro, e eu dei. Fogo ele já tinha. Depois desse encontro flertei, furtei e enganei tão naturalmente quanto se respira, e apesar de minha formação católica não estou sentindo nem um pouco de culpa. Não tome meu testemunho por confissão, não é. Lá fora é o inferno, eu o vejo de minha janela, ele é luminoso e amorfo, não há nada parecido com uma linha reta por lá.
O inferno é fogo. Uma vez nele é preciso saber driblar.
O inferno é fogo, e eu tô pra jogo.
Aí vou eu...

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

terça-feira, 21 de junho de 2011

sessão coruja

23:30, os caras chegam. tomamos café, assistimos zach hill pelo youtube, vazamos, lembrei que esqueci não sei o quê, voltamos, retornamos, ..., melvins e black sabath no som, ..., chegamos no lugar, o lugar é massa, bill tava lá com uma birita, pega isso pega aquilo pluga ali, 01:30, plin plin plin bom bom bom glub glub toc toc e a arapuca de catar músicas tá armada, lá vai: pagamento de biu seguido de zica onde chegamos à conclusão que "se você não montar o sistema o sistema monta em você", diabo nas entranhas, pausa pra everaldo encorporar macgyver, aprenda a dizer não e ppp. dois takes de cada. 01-02, 02-01, 03-01 e 04-02 são os números. vocais. 04:40. fim do expediente.
é a primeira session, e das quatro músicas três já estão redondas. começo promissor.
05:05.
- zzz. ronc.
06:45. trim: trampo.
07:55, tomo café, escrevo isso: do it yourself

have a nice day.

aqui ppp sendo gravada, abaixo, com os vocais, mais abaixo diego tentando domar os pedais, e, sim, os vídeos foram gravados por um celular, sorrrry.





quinta-feira, 16 de junho de 2011

insano


baixe aqui. Mas baixe mesmo, e baixe logo.

bsb, 14, 06


lua nascendo afrente com sol se pondo ao fundo refletindo no espelho do prédio e dando barato no fotógrafo ao meio, que, talvez por isso, tirou a foto de banda.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Marchinha


Era como essa árvore do lado de minha janela
Eu ia, vinha, subia, descia
Como e quando bem queria

Mas uma árvore não é um poste - Quebrei a perna

Hoje ainda trepo nela
Com cautela.


terça-feira, 24 de maio de 2011

Maria Falconetti




lombra de cola. escatolounge. niilirismo. música ambiente de netuno. eletrobronha. surf music de Oz. matéria bizonha. mambolero. ruído de porra nenhuma. dub dúbio. hino ao suicídio coletivo. a puta que te pariu. eco de nada. noisense. bzzt. e por que não? o agradável som de um desafeto sendo estuprado por cavalos. zoombido. grotic. é in no hawaii. uruca cool. valsa insossa. neo tupinipunk. jonestown. kraut crust. graxas à deus. nocivoltz. borrelia vincêndio. tudo isso e muito mais. batucada catatéptica. pornochanchadadélica. ... . frevinho fúnebre. ai meu cu, porra. zip. squizofreak. é noix cia ltda. coice delicado. minhas unhas rasgando o chão enquanto o demônio me arrasta para o inferno. dadadrone. tuín. Wah Bap Loops. gap. narco noir. protópera. the dronning shaggs. Beat Bote. meta metal. a flor da minha úlcera. rolé à boca. fuckabilly. cococonha. o de sempre às avessas. retrogressivo. mimimi minimal. chic no último. cancro crônico cacofônico. tretaria. satori de satã. nhá. reggae réquiem. trashoegaze. dodecafunk. humwawa pazuzu akhkharu hassan i sabbah ah pook hex chun chan ix tab. prosopopolca. skatimbó. kung fuzzy. fox trote à galope. !. catatalelepsia. ossos do ofídico. hiptimus hoptimus. 00101010110010110011. dirty rambo. estrepanação. autoboquete. desinteritmos. trans trash. just the gold. plus pus. cotoneticida. cancrum oris (pombagira). atonal incidental. synth qua non. Maria Falconetti #

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Bring Your Own Poison






Nhá. O Diego do Valdez já tinha me falado do River Phenix, mas, com esse nome, convenhamos, não dei nem idéia, até ser pego totalmente de graxa pelos caras. Eu tava na minha, não tava esperando nada, eu moro no plano piloto, eu posso esperar alguma coisa além de que o mundo acabe logo? E foi isso mesmo, um apocalipse, aleluia, e a primeira coisa que pensei foi eu preciso urgentemente ser amigo desses caras, sem saber que já era, pra você ver como são as coisas: Tem gente que pensa como a gente e eles estão desesperados, como a gente, pra conhecer gente como a gente. E por que diabos isso é tão raro sei lá eu, só sei que dei sorte, e que sorte não existe. Ontem fomos lá em Taguayorque ver o show dos Haxixins que o Planopilotópolis pagou pra não ver. Mas os planopilotenses não pagam pra ver, pagam pra serem vistos, e parece que saíram bacanas nas fotos, e se as fotos ficaram jóia é porque deve ter sido divertido, enfim, todo mundo ficou feliz, menos os Haxixins, e eu, que não sou easily amused, nem bexta, nem tô cagando dinheiro, então guardei minhas droguinhas pra o show que ia valer a pena e vou dizer - Valeu cada centavo que fiz questão de pagar. Sir Uly teve sua vingança, e ela foi comida ainda quente.


E de sobremesa sopa de bolinhas. Sirva-se.

Fuzz´Roll



quarta-feira, 27 de abril de 2011

antípodas





I


Deixassem-me em paz e não teriam nascido em mim esses chifres.

II

Eu sou um mau agouro.

Sequer sei se estou morto ou vivo, e isso não importa, se estou vivo é porque todos estão mortos, então, eu também. O tempo é cruel com quem o desafia. Esse é meu lamento. Tem o som de estilhaços, os cacos de um espelho inquebrantável.

Minha história é nebulosa, sem pé nem cabeça, uma nuvem de dados, como se costuma agora chamar. Seu começo é incerto, a conto um pouco por tédio, um pouco por necessidade, e, mal começada, já lhe anseio o final.

Eu sou brasileiro de nascença, não sei mais de que região, filho de índios, negros e brancos vira-latas, primo de mouros, sobrinho de tudo quanto é bicho do mato, católico da porta pra fora, da porta pra dentro depende da lua. Em minhas veias, se ainda as tenho, correm o Paraíba, o São Francisco, o Negro, o Solimões, o Amazonas... O Letes e o Aqueronte. Cheio de mim mesmo, tenho de transbordar minha história para poder esvaziar-me e livrar você de mim, porque, creia-me, eu sou um mal, um cancro que deve ser extirpado para que os outros gozem a vida em sua plenitude.

Ouça, nem sempre foi assim, eu já temi a morte, como todo mundo, como todo mundo nasci de uma mulher, cresci em casa de muita gente, uma casa grande, imponente, esparramada na paisagem como um buda em seu assento, cheia de regalias, um jardim, um galinheiro, um pomar, um açude, um chiqueiro, estribaria, curral, servos, escravos, e imensas plantações de cana-de-açúcar, ou café, ou algodão, ou borracha. Branco, verde, amarelo ou negro, não importa a cor do ouro, tampouco a procedência: Vai-se buscá-lo onde estiver, e mesmo quando não estiver é preciso que se vá buscá-lo. Isso eu não entendia, que nesse meu negócio a verdadeira matéria prima é a ganância.

Ouro: Espadas para extraí-lo, paus para mantê-lo, copas para perpetuá-lo.

E foi assim, traçando essas cartas marcadas, que logo cedo começou para mim a relação que me definiu. Em meu corpo as marcas que no começo exibia com orgulho, depois com medo, depois com indiferença, pois já não sei onde termino eu e começam elas, minhas espiroquetas. Foi por iniciativa delas, para satisfazer seus caprichos, que mandei construir a sala dos espelhos, meu esquife de vidro reluzente de onde observo o mundo que me ignora. Mas eu existo, eis aí um abacaxi que vocês vão ter de descascar. Para o seu azar, eu existo. Vá até o espelho mais próximo e encare o fato de frente. E tente não se assustar.

III

Paresia Geral. Cefaléias, confusão, convulsão e paralisia, e só então, com as meninges em chamas, a demência. Os japoneses culpam os portugueses, os franceses culpam os italianos que culpam os franceses, os poloneses culpam os alemães, e os russos culpam os poloneses. Ao que parece, findo as contas, a culpa é de Deus, e suas lições morais heterodoxas. E inúteis, pois Syphilus ainda toca seu rebanho para longe da luz:

Em minha cabeça vazia, panela do diabo, ferve em Banho-Maria a minha danação.

Olhe dentro da panela. Não diga a ninguém o que vê.
Se contar porá tudo a perder.
Você consegue guardar segredo? Você consegue guardar segredo até de você?

Olhe dentro da panela. Essas linhas, o almoço servido em pratos limpos, alvos como uma página em branco, a mesa posta... Convém rezar, agradecer o alimento, ainda que certamente um veneno, pois se não nos mata... E que tu cresça forte é minha prioridade. Mais forte que eu, ao menos, para que na punhalada semântica de um ponto final me ponhas termo. Tu, até tu, principalmente tu.

Coragem, homem, conduz o teu arado sobre os ossos de teus mortos. Assassina teu pai, assume o trono, desposa tua mãe, decifra este enigma. Leia as entrelinhas.

IV

Vidro, prata e alumínio, ou estanho, e voilá, aí o tens. E o que tens? Tu. Tu, tu, tu e tu, mil vezes tu. Tu Nação. Tu Legião. Tu, antípoda, e eu pensando que... Mas já faz muito tempo que não penso, só reflito. Mais um, eu, nessa sala que é o mundo e que um dia foi só uma sala, até chegarem os espelhos, a pedido meu, e encomendados pelos demônios que habitam minhas meninges. Mas disso eu não sabia. Eu não sabia de muita coisa. Eu pensava que tudo que reluz é ouro...
Eu não podia estar mais enganado.

E tudo não passa de um truque, de um golpe de vista, de um jogo de palavras que se revela quando visto do outro lado.

Ouro é tudo que reluz.
Louvado seja, meu cárcere de luz.

Quando chegaram foi uma noite nebulosa, chovia. Seis. Três por dois cada um, dois em cada lado. Pensos para frente, escoltando os janelões, e um em cada canto, de modo que, o que vissem os janelões, de pronto saberiam os espelhos, e diriam a mim.
Alguém, depois, chamou a isso Panóptico, a máquina de controlar perfeita, e não me deu o crédito, mas que se dane, não há crédito nisso, pelo contrário, e o preço é alto.

Naquela noite sentei-me aqui, onde estou, no centro da sala, à cabeceira da mesa, ao lado da escarradeira de prata, relíquia de família, e mandei vir a ceia. Comi, enrolei o fumo, acendi o cigarro e esperei, e dormi. A chuva foi parando de salpicar as telhas, o galo cantou, o sol nasceu, sua luz entrou pelos janelões do sobrado, rebateu nos espelhos, rasgou a mortalha que cobria o mundo e o dia clareou, eu abri os olhos e pude então tirar a prova de que minha máquina de ver tudo funciona. Desde então sou cego.

Vê? As Jóias da coroa de Édipo Rei são os olhos da cara

Entenda, eu vejo, posso vê-lo perfeitamente daqui de onde estou, estou agora mesmo te olhando nos olhos, aliás, mas não enxergo um palmo à frente do nariz. Eu olho para as costas nuas desta mesa de mogno em minha frente e vejo imensos campos de algodão, e as costas nuas de uma mesa de mogno, quando na verdade não se trata nem de um coisa nem outra; olho a palma de minha mão e vejo revoluções solares. Tudo mentira, efeito sem causa, signos, sinais e imagens. E eu não sei mais meus limites. Estraçalhei-me. E mesmo assim algo me condensa, acho que essa sala, acho que a idéia dela, pois ela mesma já não deve ter paredes faz muito tempo, ela deve ser mais velha do que eu, até. Ou talvez hajam duas dela, a que eu estou e a que eu sou, arapuca semântica que deixo para você aí, que é dado a elucubrações, cair; eu não, eu sequer sei o que significa isso, a gravidade não me afeta mais.
Reflexos, não reflexões, é o que sou. Nem sempre é meu rosto desfigurado pela sífilis que vejo quando olho no espelho, às vezes é o de uma senhora, o de uma criança, o de um velho, ou o teu. Fantasmas, todos

VI

Findo o último capítulo, fiquei curioso, coisa que não acontecia há muito tempo. Eu fiquei curioso e fui até a estante, procurar o Dicionário. Acontece que a estante fica lá embaixo, lá pela quinta linha, uma viagem arriscada. Para chegar nela precisei de um lampião, uns vaga.lumes, um terço, corda, um pantim e quatro substantivos, e mesmo assim ainda tive de usar um predicado, este. E a estante, enfim.

Elocubrar é a arte do devaneio, pelo que pude entender.

Ao lado do dicionário estava o Álbum e dentro dele nós. Eu, minha mãe, meu pai, meu avô, minha avó e minha irmã, a primeira que morreu, sua foto de anjinho no caixão, e a família ao redor, indiferente. Não digo com isso que já então estavam todos mortos, mas tão vivos quanto.

VII

Meu pai era um bocó. Minha mãe uma mimada que matou minha vó já de saída, no parto, e meu avô

Quando meu avô chegou aqui era tudo mato. Mandou derrubar tudo.Meu avô era um homem alto e forte e de nariz adunco, ou preto e banguela, tanto faz, mas alguém tinha que limpar aquela mataiada. Depois mandou matar um negro e o emparedou em um pilar, por superstição, e em torno dele edificou esta casa, a senzala, o engenho e as plantações.
E o açúcar espraiou-se até o horizonte. E nada mais importou nunca mais.
Os navios, e os continentes de onde vêm e para onde vão e até os que acham quando se perdem, e os ventos que sopram suas velas e as sereias que encantam seus marujos, e os diários de suas histórias e seus hinos. Tudo que já ficou para trás e tudo que ainda vem pela frente: Tudo açúcar, ou outro balangandã tilintante reluzente qualquer.

VIII

Meu avô enlouqueceu. Ouvia o negro emparedado pelos corredores. Morreu implorando por piedade.

De uns tempos para cá dei também de ouvir o negro, ele sibila por uma rachadura na base do pilar, ou sou eu que também fiquei louco. O mais provável é que sim. Não, isso é certo, tão certo quanto o lenga.lenga do negro. Mas isso foi mesmo de uns tempos para cá, depois que todos morreram, depois que peguei essa maldita doença que me debilita o corpo e me confunde as idéias. Antes ele não ousaria.
Noite passada deu pra ouvir bem. Ele dizia que perdoava meu avô, pois ele agiu por ignorância. Mas que eu fiz por merecer este inferno.

IX

O tempo está parado. A casa está vazia. Oca, reverbera o som do pássaro pendurado na gaiola do alpendre. Deve ser um novo dia. Que seja. Hoje deve ser um novo dia, diferente de todos os ontens, a partir de hoje os ontens nunca mais invadirão o amanhã. A manhã será de sol, luz e maresia e a noite, quando vier, virá de chapéu em mãos, pedirá licença, limpará os pés, e eu acenderei o lampião, servirei café, ouvirei suas histórias, muitas delas eu as vivi, ou fui testemunha, eu ouvirei suas histórias e nada mais. Quando esse novo dia raiar, nos despediremos cordialmente, velha comadre, “não preciso acompanhá-la à porta, você sabe o caminho”. Ela fechará a porta atrás de si e eu esquecerei dela outra vez, de sua tez pálida como a minha própria. Sobrará a lembrança de suas histórias, histórias que não contarei a mais ninguém, nunca mais, e amanhã, quando for hoje novamente, será para sempre um novo dia, eu abrirei os janelões de par em par e deixarei a luz entrar sem pedir licença para desgosto de meu mal, pois lá fora não haverá mais dor que ele reflita em mim, e se então você puder me ver, se eu existir então, você verá meu sorriso por baixo de meus bigodes cintilando a luz do dia estampada em meus dentes de ouro. O meu sorriso dourado crescendo, tomando conta dessa minha cara austera, ficando maior que eu, inundando o mundo, afinal o mundo sou eu... Então, sorria. Sorria comigo, amigo meu, saúde o dia, enchamos de alegria essa minha casa vazia. Rachemos esses pilares que sustentam toda essa ausência, alforriemos nossas almas incrustadas em colunas maciças o suficiente para agüentar partidos e discursos e ganância e hipocrisia, todo esse insustentável monte de nada, que ele venha abaixo, enfim. Já é hora, já é dia.

Mas não um novo dia. O tempo ainda está parado, a casa ainda está vazia. O pássaro continua cantando...

Sua música me angustia.

X

Eu odeio esta sala e seus malditos espelhos. Eu odeio minha vida milenar, há mil anos morrendo. Eu gostaria de estar preso em um farol, uma ponte, até, mas não aqui, na casa de meus pais, dos pais de meus pais, com esses gemidos desse negro e os chiados desse pássaro.
Em minha infância a vida era vivida sob as saias de telha vã dessa mãe matrona, dentro de seus muros, sob seus auspícios, e era sempre morna e aconchegante para mim. Lá fora a rua nos espreitava como um gavião a um franguinho, mas no futuro isso seria corrigido também, teria de ser, não sei se o tempo verbal concorda comigo, não me importo, mas a rua é um burro.chucro, um perigo à ordem em qualquer tempo de qualquer período, e teve de ser abatida. Foi assim que congelamos a história. Ou você não notou que desde o primeiro parágrafo não paramos sequer uma vírgula de caminhar em círculos?

É porque faço bem o meu trabalho.


Baby

Não me venha com caminhos em meio a nosso atalho
Que, eu, falo, instinto
E se falo minto então te cala, mente
Pois eu só quando sinto tu só quase sempre
Sigo
Rente
E no caminho sei o rumo, o sabendo fumo
E ela que me traga
Ela - pernas abertas, nua, deserta, abraçada ao própio corpo
Vê-me a alma
De viés
...Eu, fumaça, projetada na piscina a vinte mil léguas
Sub marinas
Sob meus pés.

post sem título

post sem post. página virada.

sábado, 23 de abril de 2011

sexta-feira, 15 de abril de 2011

espetacular!


A teoria revolucionária é, agora, inimiga de toda ideologia revolucionária



quinta-feira, 14 de abril de 2011

eu voto em mim

Votar é a arte de se tapar buracos com rombos, muito na moda entre os que acreditam em Papai Noel, Cruviana, Estado e outros bichinhos míticos do folclore popular. Então a solução é a anarquia? você vai me dizer novamente com essa tua cara de cu de quem recebe mesada, e eu vou novamente te dizer que entre nada e porra nenhuma eu prefiro ficar em casa a ser visto de rolé de lancha no Paranoá.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

entrevista de emprego

Ele me pediu pra esperar mais um instante, eu já estava quarenta e cinco minutos esperando, em pé. Ele queria que eu esfolasse os joelhos para ralar as mãos.
Ele que se fôda.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

segunda feira ao sol

O mundo é desse jeito, sinto informar - ela vinha me dizendo no caminho de volta. Ahã. Ora, por quem me tomas? Que o mundo é desse jeito qualquer um sabe, por que não fazemos nada a respeito, isso sim é algo que gostaria de saber. Vou retroceder um pouco e contar uma historinha de vinte anos atrás, é rápida, começa comigo encasquetado com essa mesma questãozinha, encostado em um poste na esquina de minha rua, pois naquele tempo havia esquinas em minha vida. Começa assim e termina com uma senhora passando por mim e me dando uma esmola. ...Eu devo mesmo ser digno de pena, eu e meus dilemas, porque isso repetiu-se ainda algumas vezes em minha vida, e vai que um troco resolva tudo, resuma tudo - para quem dá, mas não para mim, eu não sou assim. E quando encontro alguém como eu a mistura é realmente desastrosa. Mas dessa vez até que nem tanto, dessa vez eu passei vinte horas procurando o mar em pleno planalto central, vinte horas insanas, vou poupar-lhe dos detalhes sórdidos mas leve em conta que eu, modéstia à parte, aguento o tranco. E não foi mesmo o tranco o problema, foi a vontade imperiosa de resolver de vez essa minha questãozinha, de precipitar o estouro da boiada, ou morrer tentando, porque, convenhamos, esse inferno gelado, essa jaula sem grades, isso não é vida. Então lá estávamos nós, depois de sei lá quantos prós, vendo a vida passar, quando alguém me tapa o sol e meu chapa me diz - Biu, essa é minha irmã, e eu digo prazer e estiro minha mão e recebo uma careta de cumprimento, naturalmente: eu não esperava mesmo que ela apertasse minha mão. Depois até me pediu desculpas pela grosseria e me deu uma carona de volta e ficou intrigada em saber que o irmão não conhecia apenas "pessoas patéticas", mas esse não é o ponto, o ponto é que assim cheguei ao ponto e o entrego agora em uma bandeja de prata: O sentido da vida não está em nós, está no outro. Nos olhos cheios d'água de Olavo. Você provavelmente vai ter de sofrer um pouco, talvez um muito, se for cabeça dura como eu, até sentir na pele esta verdade, pois, quem me dera, eu li Dostoievski de cabo à rabo, e em cada linha está escrito isso, então não é lendo esse bloguinho estúpido que alguém irá entender, nem é com essa finalidade que estou escrevendo, eu escrevo para mim, somente para mim. Eu já soube essa certeza uma vez, precisei de bem mais que meras vinte horas de purgação então. O inferno gelado me fez esquecer, meu encontro desastroso com um irmão de calvário me fez relembrar. Essa noite eu dormi como um anjo, e sonhei com o mar.

sábado, 9 de abril de 2011

Eu sou o rochedo feliz

"Em cada período crítico da minha vida pareço haver tropeçado num grande autor capaz de amparar-me. Nietzsche, Dostoiévski, Faure, Spengler: que quarteto! Houve outros, naturalmente, também importantes em certos momentos, mas nunca possuíram a amplitude, a grandeza dos quatro. Os quatro cavaleiros de meu Apocalipse partícular! Cada um expressando inteiramente sua qualidade específica: Nietzsche, o iconoclasta; Dostoiévski, o grande inquisidor; Faure, o mágico; Spengler, o modelador. Que fundação!
Nos dias do porvir, quando eu parecer sepultado, quando o firmamento ameaçar cair sobre minha cabeça, serei forçado a abandonar tudo, exceto o que esses espíritos em mim implantaram. Serei esmagado, aviltado, humilhado. Serei frustrado em todas as fibras do meu ser. Posso até ser levado a uivar como um cão. Mas não estarei completamente perdido! Raiará o dia em que, repassando a vida como se ela fosse uma história ou a história, poderei nela detectar uma forma, um modelo, um significado. Daí em diante a palavra derrota se tornará inexpressiva. Será impossível uma reincidência.
Desse dia em diante, eu me torno e permaneço fiel à minha criação.
Um outro dia, numa terra estrangeira, aparecerá diante de mim um jovem que, consciente da mundança que em mim se processou, me alcunhará de "O Rochedo Feliz". Este o apelido que darei quando grande Cosmocriador perguntar "Quem és?"
Sim, sem sombra de dúvida, eu responderei: "O Rochedo Feliz!"
E se me for perguntado: "Apreciaste tua estada na terra?" eu responderei: "Minha vida foi uma longa crucificação encarnada".
Quanto à significação disso, se ainda não está claro, será elucidada. Quero ser um cão na manjedoura, se falhar.
Uma ocasião, pensei ter sofrido o que nenhum outro homem sofreu. Por me sentir assim, fiz o voto de escrever este livro. Mas, muito antes de iniciar o livro, a ferida cicatrizara. Tendo jurado cumprir a promessa, reabri a horrível ferida.
Permitam-me outra expressão...Talvez, ao abrir a ferida, minha própria ferida, eu fechasse outras feridas, as chagas de outra pessoa. Algo morre e refloresce. Sofrer na ignorância é horrível. Sofrer deliberadamente a fim de compreender a natureza do sofrimento e aboli-lo para sempre, é outra questão inteiramente diversa. Buda teve um pensamento fixo a vida inteira, como sabemos: era eliminar o sofrimento humano.
Sofrer é desnecessário. Mas temos de sofrer antes de sermos capazes perceber que isso é assim mesmo. Somente então o verdadeiro significado do sofrimento humano fica claro. No último momento desesperado - quando já não podemos sofrer mais! -, algo acontece, da natureza de um milagre. A grande ferida aberta, que vertia o sangue da vida, se fecha, o organismo floresce como uma roseira. Estamos "livres" por fim, e não "com saudades da Rússia", mas com a ânsia de mais liberdade, de mais felicidade. A árvore da vida é mantida viva não por meio de lágrimas, mas pelo conhecimento de que a liberdade é real e perpétua."

quarta-feira, 30 de março de 2011

terça-feira, 29 de março de 2011

domingo, 27 de março de 2011

sábado, 26 de março de 2011

caralholândia

esse governo, assim como o anterior e o anterior e o anterior e o próximo é um desgoverno, uma bagunça, antes a anarquia, porque declarada, a este desfile interminável de joselitos, pois não se enganem, dilmas, a bandeira ainda tremula frígida no mastro ereto, este ainda é um país de caralhos, de caralhos brancos aviagrados, de fato, daí ser esse um país buceta, la buça que mi gusta, é vero, pero, que putaria, no, esse governo? esse governo e o anterior e o anterior e o anterior e o próximo.

sexta-feira, 18 de março de 2011

planopilotópolis

Era uma vez, no coração do Brasil, um xis, e nele nós.
Todos os caminhos levam à Roma, é o que dizem, mas ser Roma também um caminho, a DF 002, isso me desnorteou, e a asa sul foi o que restou.
Era uma vez, no coração do Brasil, um xis, nele, cravada, uma cruz, nela, atados, nós, cegos de ignorância, como ex votos de graças que nos custaram muito caro, os olhos da cara: As jóias da coroa de Édipo Rei.

sexta-feira, 11 de março de 2011

terça-feira, 1 de março de 2011

esse ano foi um ano ruim

01. Da origem do estado

Todo relato sobre as origens do estado parte da premissa de que nós - não nós leitores, mas algum nós genérico, tão amplo a ponto de não excluir ninguém - participamos de seu nascimento. Mas o fato é que o único "nós" que nós conhecemos - nós mesmos e as pessoas próximas a nós - nascem dentro do estado; e nossos antepassados também nasceram dentro do estado até onde possamos situar. o estado existe sempre antes de nós.
...
Se, apesar das provas dos nossos sentidos, aceitamos a premissa de que nós ou nossos antepassados criaram o estado, então temos de aceitar também suas implicações: que nós ou nossos antepassados poderíamos ter criado o estado de alguma outra forma, se tivéssemos escolhido; e também, que podíamos transformá-lo se assim decidíssemos coletivamente. Mas o fato é que, mesmo coletivamente,aqueles que estão "sob" o estado, que "pertencem" ao estado, acharão muito difícil mesmo mudar sua forma; eles- nós - são com certeza impotentes para aboli-lo.
Dificilmente estará em nosso poder mudar a forma do estado e é impossível aboli-lo porque, diante dele, nós somos, precisamente, impotentes. No mito da fundação do estado de Thomas Hobbes, nossa descida à impotência foi voluntária: a fim de escapar da violência da guerra mutuamente mortal e sem fim (represália sobre represália, vingança sobre vingança, a vendetta), nós individualmente e separadamente cefemos ao estado o direito de usar força física (direito é força, força é direito), consequentemente entrando no reino (na proteção) da lei. Aqueles que escolheram e escolhem ficar fora do bloco são foras-da-lei.
A lei protege o cidadão respeitador das leis. Chega até mesmo a proteger o cidadão que, sem negar a força da lei, mesmo assim usa a força contra o concidadão: a punição prescrita para o criminoso deve ser condigna com o crime.. Nem mesmo um soldado inimigo, na medidaem que é representante de um estado rival, deve ser morto se capturado. Mas não existe lei para proteger o fora-da-lei, o homem que pega em armas contra seu própio estado, isto é, o estado que o considera como seu.
Fora do estado (da comunidade, do statum civitatis), diz Hobbes, o indivíduo pode sentir que goza de perfeita liberdade, mas essa liberdade não lhe faz nenhum bem. Dentrodo estado, por outro lado, "é conservada por todo súdito tanta liberdade quanto lhe seja suficiente para viver bem e de maneira tranquila e é tirado dos outros aquilo que é preciso para perdermos o medo deles...Fora )do governo civil) assistiremos ao domínio das paixões, da guerra, do medo, da miséria, da imundície, da ignorância, da solidão, da barbárie e da crueldade; nele, ao domínio da razão, da paz, da segurança, das riquezas, da decência, da sociedade, da elegância, das ciências e da benevolência".
O que o mito hobbesiano das origens não menciona é que a entrega de poder ao estado é irreversível. Não está aberta a opção de mudarmos de idéia, de decidirmos que o monopólio do exercício da força exercido pelo estado, codificado pela leinão é o que queríamos afinal de contas, que preferiríamos retornar ao estado natural.
Nascemos sujeitos. Desde o momento de nosso nascimento somos sujeitos. Uma marca dessa sujeição é a certidão de nascimento. O estado aperfeiçoado detém e mantém o monopólio de certificar o nascimento. Ou você recebe (e leva consigo) uma certidão do estado, adquirindo assim uma identidade que no curso da vida permite que o estadoo identifique e localize(vá em seu encalço), ou você segue em frente e se condena a viver fora do estadocomo um animal(animais não têm documentos de identificação.
Não apenas lhe é vedado entrar no estado sem identificação: aos olhos do estado, você não morre enquanto não tiver uma certidão de óbito; e a certidão de óbito só pode ser dada por um funcionário que possua ele própio uma certidão do estado. O estado procede com extremo rigor na certificação da morte- veja-se o envio de uma horda de cientistas forenses e burocratas para esquadrinhar, fotografar, cutucar e espetar a montanha de corpos deixada pelo grande tsunami de 2004 a fim de determinar suas identidades. Não se poupam despesas para garantir que o censo de sujeitos esteja completo e acurado.
Se o cidadão vive ou morre não é preocupação do estado. O que importa para o estado e seus registros é se ele está vivo ou morto.
*
Na época dos reis dizia-se ao sujeito: Você era súdito do rei A, agora o rei A morreu e olhe! você é súdito do rei B. Então chegou a democracia e o sujeito pela primeira vez se defrontava com uma escolha: Vocês (coletivamente) querem ser governados pelo cidadão A ou pelo cidadão B?
O sujeito se vê sempre confrontado com o fato consumado: no primeiro caso com o fato de sua sujeição; no segundo, com o fato da escolha. A forma de escolha não está aberta a discussão. A cédula de votação não diz: Você quer A ou B ou ninguém? O cidadão que expressa sua insatisfação com a forma de escolha pelo único meio que lhe resta - não votar ou anular o voto - simplesmente não é contado , quer dizer, é descontado, ignorado.
Diante da escolha entre A e B, dado o tipo de A ou o tipo de B que geralmente chega à cédula de votação, a maioria das pessoas, pessoas comuns, tende, em seu coração, a não escolher nenhum. Mas isso é só uma tendência, e o estado não lida com tendências. Tendências não fazem parte da moeda corrente da política. O estado lida é com escolhas. A pessoa comum gostaria de dizer: Em alguns dias eu tendo para a, outros para B, a maior parte dos dias eu sinto simplesmente que eles deveriam sumir; ou então, Um pouco A, um pouco B às vezese outras vezes nem A nem b, mas alguma coisa bem diferente. O estadosacode a cabeça. Você tem de escolher, diz o estado: A ou B.

02. Da anarquia

Quando a expressão "os bastardos" é usada na Austrália, por todo lado se entende a que se refere. "Os bastardos" foi um dia o termo dos prisioneiros para se referir aos homens que se diziam seus superiores e o açoitavam se ele discordava. Hoje "os bastardos2 são os políticos, homens e mulheres que controlam o estado. O problema: como afirmar a legitimidadeda velha perspectiva, a perspectiva de baixoa do prisioneiro, quando está na natureza dessa perspectiva ser ilegítima, contra a lei, contra os bastardos.
A oposição aos bastardos, a oposição ao governo em geral sob a bandeira do libertarismo, adquiriu um nome feio porque com muita frequência suas raízes se encontram na relutância em pagar impostos. Seja qual for a posição da pessoa sobre pagar tributos aos bastardos, um primeiro passo estratégico tem de ser distinguir-se desse traço libertário particular. Como fazêlo? "Pegue metade do que eu possuo, pegue metade do que eu ganho, eu cedo a você; em troca, me deixe em paz". Será que isso basta para alguém provar sua boa fé?
Etienne de La Boétie, o jovemamigo de Michel de Montaigne, escrevendo em 1949, viu a passividade da população em relação a seus governantes primeiro como um vício adquirido, depois como um vício herdado, uma obstinada 2vontade de ser governado" que acaba ficando tão profundamente enraizada "que mesmo o amor pela liberdade passa a parecer não tão natural".

Incríve
l ver como o povo, uma vez submetido, cai num tão profundo esquecimento de sua liberdade anterior que lhe é impossível despertar e recuperá-la, o povo serve tão bem, e tão voluntariamente, que ao vê-lo dirse-ia que perdeu não apenas sua liberdade, mas conquistou sua servidão. É verdade que, de início, a pessoa serve por coação e dominada à força; mas aqueles que vêm depois servem sem lamentar, e realizam de boa vontade o que seus predecessores realizavam por coação. Os homens nascidos sob o julgo, depois alimentados e criados na servidão, sem olhar adiante, contentam-se em viver como nasceram...Eles tomam como seu estado natural o estado em que nasceram.

Bem colocado. No entanto, La boétie entende de maneira errada um aspecto importante. As alternativas não são plácida servidão de um lado e revolta contra servidão do outro. Existe uma terceira via, escolhida por milhares e milhões de pessoas todos os dias. É a via do quietismo, do obscurantismo voluntário, da emigração interior.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

my name is big brother


"Diante das novas formas de controle incessante em meio aberto é possível que os mais rígidos sistemas de clausura nos pareçam pertencer a um passado delicioso e agradável"

Deleuze

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

O Túnel

O túnel é oco
triste
frio
denso
escuro
vazio
longo
soturno
sombrio
e, mesmo assim
eu vou a mil:
ele tem fim.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

22.

O temor da plebe é um medo supersticioso. baseia-se na idéia de que há alguma diferença fundamental entre ricos e pobres, como se fossem duas raças diferentes, como negros e brancos. Mas, na realidade, não existe diferença. A massa dos ricos e dos pobres diferenciam-se por suas rendas e nada mais, e o milionário típico é apenas o lavador de pratos típico com roupa nova. Troquem-se os lugares e adivinhem quem é o juíz e quem é o ladrão. Quem quer que tenha se misturado em termos iguais com os pobres sabe disso muito bem. Mas o problema é que as pessoas inteligentes e cultas, justamente aquelas que deveriam ter opiniões liberais, jamais se misturam com os pobres. Pois o que a maioria das pessoas instruídas sabe sobre pobreza? Em meu exemplar dos poemas de Villon traduzido para o inglês, o editor julgou necessário explicar o verso "Ne pain ne voyent qu´aux fenestres" em uma nota de rodapé, tão remota é a fome da experiência do homem culto. Dessa ignorância resulta naturalmente um medo supersticioso da plebe. O homem instruído imagina uma horda de sub-homens, desejosos apenas de um dia de liberdade para saquear sua casa, queimar seus livros e pô-lo a trabalhar cuidando de uma máquina ou varrendo um banheiro. "Antes qualquer coisa", ele pensa, "qualquer injustiça, a libertar a plebe". Não vê que, uma vez que não há diferença entre a massa de ricos e a de pobres, não se trata de libertar a plebe. A plebe, na verdade, está livre agora e - na forma de homens ricos - está usando seu poder para montar enormes moinhos de tédio, tais como os hotéis "elegantes".

G. O.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

na pior

Quando você se aproxima da pobreza, faz uma descoberta que supera algumas outras. você descobre o tédio e as complicações mesquinhas e os primórdios da fome, mas descobre também o grande aspecto redentor da pobreza: o fato de que ela aniquila o futuro. Dentro de certos limites, é mesmo verdade que quanto menos você tem, menos você se preocupa. Quando você tem cem francos,fica à mercê dos mais covardes pânicos. Quando tudo o que você tem na vida são apenas três francos, você se torna bastante indiferente: três francos vão alimentá-lo até o dia seguinte e você não pode pensar adiante disso. Você fica entediado, mas não tem medo. Pensa vagamente: "Em um ou dois dias estarei morrendo de fome - chocante, não?". E então a mente divaga por outros assuntos. Uma dieta de pão e margarina proporciona, em certa medida, seu própio analgésico.
E há outro sentimento que serve de grande consolo na pobreza. Acredito que todos que ficaram duros já o experimentaram. É um sentimento de alívio, quase de prazer, de você saber que está, por fim, genuinamnte na pior. Tantas vezes você falou em entrar pelo cano - e, bem, aqui está o cano, você entrou nele e é capaz de aguentar. Isso elimina um bocado de ansiedade.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Piano de Gato






não confundir com o gato do piano

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Mallogro


Sílabas sibilantes galopando frases rascantes. Transbordamentos horizontais, exterioridades transversais, excentricidades da sintaxe, modus, finis, práxis. Bordões aos borbotões.
Metástases morfológicas à parte, teu silêncio, baby, ainda é o teu melhor.