Há essas vinte e tantas letras e eu não sei bem o que fazer com elas agora que o tempo parou. Eu já me debati tanto... Já estamos às claras, a festa acabou, ficamos até seu final, o seu, não o meu, amigo, não foi por falta de aviso, afinal, tudo já foi dito, e creio que não resta muito a fazer agora, que o tempo parou.
Há essas vinte e tantas letras e elas são o ar que respiro, mas não pagam aluguel, nem sequer desconfiam que uma estupidez dessas exista e continue existindo mesmo agora, que o tempo parou.
Firme. Rente. Amoral. Ouvindo mais do que falando, e vendo mais do que mostrando. Rumo aos milhões de segundos mágicos piscantes, ou diretinho para o inferno. Orever. Yo.
Em carne viva, curtindo a brisa, como Adão, lá parado, pelado, olhando para o alto, esperando a chave da casa vermelha cair do céu aos meus pés de barro e pensando, pensando...
E se a chave não abre a porta como na canção, e se deus não existir, e se eu for demitido, e se eu me demitir, e se eu mudar de cidade, de mulher, de carro, de sexo, de profissão. E só o que dá por ora é espreitar pelo buraco da fechadura:
"Observando o céu com sua luneta mágica o cientista percebeu uma estrela que ao menos para ele era nova e deu-lhe seu nome. Quando calculou a idade de sua descoberta ocorreu-lhe que talvez tenha sido ele a receber o nome dela, e depois concluiu que orever, tanto faz, quem espiona se mostra".
Então, quando viu pelo buraco da fechadura que do outro lado estava ele vendo que do outro lado estava ele com um olho aqui e o outro lá cuidando do de cá, pirou. Yo.
Essas vinte tantas letras, eu não sei o que fazer com elas. Estamos todos aqui agora, que o tempo parou, tudo já foi dito, estamos às claras e o mundo acabou e ainda assim elas despregam de seus batentes se encadeiam e seguem em frente, tão belas, e já me debati tanto, eu não sei o que fazer com elas.
E subtamente, toc - toc, toc - toc, do outro lado, e isso meio que desentope meus sentidos e percebo os sons da rua, os motores e os sinos e tem até um passarinho, e todos esses sons lá fora enquanto os móveis me olham mudos aqui dentro. Na rua, os postes, os muros, as buzinas me dão boa noite, um bar acena para mim do outro lado, fosforescente, lá haverá um café ou uma cerveja, um jornal, e enfiada entre mortes, estupros, corrupção e um monte de mentiras, uma boa notícia. Vamos à ela.
Robert Zimmerman tinha essa habilidade nata em fuçar o lixo social, por assim dizer. Morte no eixão, roubo no Masp, milagre do crescimento, Beatrix, 18 aninhos, sol em sagitário e lua na casa do caralho; havia um padrão ali, e Bob iria sacá-lo, de um jeito ou de outro. Então, enquanto atravessava a rua com suas botas de caubói e sua gaitinha fon-fon indo em direção às good news e a uma cerveja gelada, decididamente, viu que na contramão dele vinha, estão prontos? Ele mesmo. Nem aí Bob diz hey, Bob, à Bob, e continua em direção aos milhões de segundos mágicos piscantes, ou diretinho para o inferno, e nisso, o bar, a cerveja e as notícias. O mundo acabou. O tempo parou. Estamos às claras. As mesmas notícias de sempre passavam por ele nas entrelinhas das colunas, artigos, crônicas e ele não quer mais saber do que já sabe, ele quer saber onde tudo isso vai dar, em pizza, é o que eles dizem, mas Bob não crê em nada que escuta, aliás, ele crê, em tudo, o que dá no mesmo, não é? Para Bob tanto faz a CPMF e a invasão alienígena, mesmíssima merda. Mas, Língua de fogo mata sete cães no Gama e Músico fica recluso após acidente de moto, há algo aí, rebolando no vento...
Mais uma cerveja, mais uma ficha, mais uma música. Mais uma olhada no jornal. A conta. E aí, Bob, What´s up, What´s up, Bob? Bob fica perguntando-se enquanto atravessa a rua distraído, absorto. Ele percebe que há algo acontecendo agora mesmo, na sua frente, mas, o quê? É como olhar-se pelo buraco da fechadura, aquela toca de coelhos brancos onde está-se sempre atrasado porque o tempo parou, você vê-se fazendo o que você faria e quando dá-se conta, pronto, está feito.
Bob ainda não sabia qual é a boa e decidiu não voltar para casa ainda, não voltar para casa enquanto não descobrisse, não voltar para casa nunca mais, quando descobriu que ali não era sua casa, e afinal decidiu que não há um lar para Bob, melhor comprar uma moto, uma Harley.
Firme. Rente. Amoral. Ouvindo mais do que falando, e vendo mais do que mostrando. Rumo aos milhões de segundos mágicos piscantes, ou diretinho para o inferno. Orever. Yo.
Em carne viva, curtindo a brisa, como Adão, lá parado, pelado, olhando para o alto, esperando a chave da casa vermelha cair do céu aos meus pés de barro e pensando, pensando...
E se a chave não abre a porta como na canção, e se deus não existir, e se eu for demitido, e se eu me demitir, e se eu mudar de cidade, de mulher, de carro, de sexo, de profissão. E só o que dá por ora é espreitar pelo buraco da fechadura:
"Observando o céu com sua luneta mágica o cientista percebeu uma estrela que ao menos para ele era nova e deu-lhe seu nome. Quando calculou a idade de sua descoberta ocorreu-lhe que talvez tenha sido ele a receber o nome dela, e depois concluiu que orever, tanto faz, quem espiona se mostra".
Então, quando viu pelo buraco da fechadura que do outro lado estava ele vendo que do outro lado estava ele com um olho aqui e o outro lá cuidando do de cá, pirou. Yo.
Essas vinte tantas letras, eu não sei o que fazer com elas. Estamos todos aqui agora, que o tempo parou, tudo já foi dito, estamos às claras e o mundo acabou e ainda assim elas despregam de seus batentes se encadeiam e seguem em frente, tão belas, e já me debati tanto, eu não sei o que fazer com elas.
E subtamente, toc - toc, toc - toc, do outro lado, e isso meio que desentope meus sentidos e percebo os sons da rua, os motores e os sinos e tem até um passarinho, e todos esses sons lá fora enquanto os móveis me olham mudos aqui dentro. Na rua, os postes, os muros, as buzinas me dão boa noite, um bar acena para mim do outro lado, fosforescente, lá haverá um café ou uma cerveja, um jornal, e enfiada entre mortes, estupros, corrupção e um monte de mentiras, uma boa notícia. Vamos à ela.
Robert Zimmerman tinha essa habilidade nata em fuçar o lixo social, por assim dizer. Morte no eixão, roubo no Masp, milagre do crescimento, Beatrix, 18 aninhos, sol em sagitário e lua na casa do caralho; havia um padrão ali, e Bob iria sacá-lo, de um jeito ou de outro. Então, enquanto atravessava a rua com suas botas de caubói e sua gaitinha fon-fon indo em direção às good news e a uma cerveja gelada, decididamente, viu que na contramão dele vinha, estão prontos? Ele mesmo. Nem aí Bob diz hey, Bob, à Bob, e continua em direção aos milhões de segundos mágicos piscantes, ou diretinho para o inferno, e nisso, o bar, a cerveja e as notícias. O mundo acabou. O tempo parou. Estamos às claras. As mesmas notícias de sempre passavam por ele nas entrelinhas das colunas, artigos, crônicas e ele não quer mais saber do que já sabe, ele quer saber onde tudo isso vai dar, em pizza, é o que eles dizem, mas Bob não crê em nada que escuta, aliás, ele crê, em tudo, o que dá no mesmo, não é? Para Bob tanto faz a CPMF e a invasão alienígena, mesmíssima merda. Mas, Língua de fogo mata sete cães no Gama e Músico fica recluso após acidente de moto, há algo aí, rebolando no vento...
Mais uma cerveja, mais uma ficha, mais uma música. Mais uma olhada no jornal. A conta. E aí, Bob, What´s up, What´s up, Bob? Bob fica perguntando-se enquanto atravessa a rua distraído, absorto. Ele percebe que há algo acontecendo agora mesmo, na sua frente, mas, o quê? É como olhar-se pelo buraco da fechadura, aquela toca de coelhos brancos onde está-se sempre atrasado porque o tempo parou, você vê-se fazendo o que você faria e quando dá-se conta, pronto, está feito.
Bob ainda não sabia qual é a boa e decidiu não voltar para casa ainda, não voltar para casa enquanto não descobrisse, não voltar para casa nunca mais, quando descobriu que ali não era sua casa, e afinal decidiu que não há um lar para Bob, melhor comprar uma moto, uma Harley.
Na porta de casa, de volta do bar, achei que seria uma boa idéia uma saideira, talvez achar alguém com quem possa conversar. Fiquei ali parado um instante, observando o movimento, era véspera de natal e havia muita gente indo e vindo e todos falavam com todos e a rua estava enfeitada, piscando, toda meretriz, então, sem pensar, por impulso, bati à minha própria porta, como se quisesse me acordar lá dentro, aqui dentro, e voltei para a rua. Haverá ao menos uma boa festa em todo este maldito lugar, longe, onde não chegue o espírito de natal, e com todos os demônios eu estarei nela. Eu não tenho nada, não tenho nada a perder, então, aposto alto, aposto tudo em mim mesmo. Ouro, copas, paus e espadas, cinquenta e seis cartas, vinte e dois arcanos, vinte e tantas letras, sete notas, e para sorte ou azar, ainda estão rolando os dados, e para sorte ou azar, parece que rolarão eternamente.