segunda-feira, 11 de abril de 2011
segunda feira ao sol
O mundo é desse jeito, sinto informar - ela vinha me dizendo no caminho de volta. Ahã. Ora, por quem me tomas? Que o mundo é desse jeito qualquer um sabe, por que não fazemos nada a respeito, isso sim é algo que gostaria de saber. Vou retroceder um pouco e contar uma historinha de vinte anos atrás, é rápida, começa comigo encasquetado com essa mesma questãozinha, encostado em um poste na esquina de minha rua, pois naquele tempo havia esquinas em minha vida. Começa assim e termina com uma senhora passando por mim e me dando uma esmola. ...Eu devo mesmo ser digno de pena, eu e meus dilemas, porque isso repetiu-se ainda algumas vezes em minha vida, e vai que um troco resolva tudo, resuma tudo - para quem dá, mas não para mim, eu não sou assim. E quando encontro alguém como eu a mistura é realmente desastrosa. Mas dessa vez até que nem tanto, dessa vez eu passei vinte horas procurando o mar em pleno planalto central, vinte horas insanas, vou poupar-lhe dos detalhes sórdidos mas leve em conta que eu, modéstia à parte, aguento o tranco. E não foi mesmo o tranco o problema, foi a vontade imperiosa de resolver de vez essa minha questãozinha, de precipitar o estouro da boiada, ou morrer tentando, porque, convenhamos, esse inferno gelado, essa jaula sem grades, isso não é vida. Então lá estávamos nós, depois de sei lá quantos prós, vendo a vida passar, quando alguém me tapa o sol e meu chapa me diz - Biu, essa é minha irmã, e eu digo prazer e estiro minha mão e recebo uma careta de cumprimento, naturalmente: eu não esperava mesmo que ela apertasse minha mão. Depois até me pediu desculpas pela grosseria e me deu uma carona de volta e ficou intrigada em saber que o irmão não conhecia apenas "pessoas patéticas", mas esse não é o ponto, o ponto é que assim cheguei ao ponto e o entrego agora em uma bandeja de prata: O sentido da vida não está em nós, está no outro. Nos olhos cheios d'água de Olavo. Você provavelmente vai ter de sofrer um pouco, talvez um muito, se for cabeça dura como eu, até sentir na pele esta verdade, pois, quem me dera, eu li Dostoievski de cabo à rabo, e em cada linha está escrito isso, então não é lendo esse bloguinho estúpido que alguém irá entender, nem é com essa finalidade que estou escrevendo, eu escrevo para mim, somente para mim. Eu já soube essa certeza uma vez, precisei de bem mais que meras vinte horas de purgação então. O inferno gelado me fez esquecer, meu encontro desastroso com um irmão de calvário me fez relembrar. Essa noite eu dormi como um anjo, e sonhei com o mar.
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Um comentário:
frenético nos updates
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