terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

my name is big brother


"Diante das novas formas de controle incessante em meio aberto é possível que os mais rígidos sistemas de clausura nos pareçam pertencer a um passado delicioso e agradável"

Deleuze

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

O Túnel

O túnel é oco
triste
frio
denso
escuro
vazio
longo
soturno
sombrio
e, mesmo assim
eu vou a mil:
ele tem fim.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

22.

O temor da plebe é um medo supersticioso. baseia-se na idéia de que há alguma diferença fundamental entre ricos e pobres, como se fossem duas raças diferentes, como negros e brancos. Mas, na realidade, não existe diferença. A massa dos ricos e dos pobres diferenciam-se por suas rendas e nada mais, e o milionário típico é apenas o lavador de pratos típico com roupa nova. Troquem-se os lugares e adivinhem quem é o juíz e quem é o ladrão. Quem quer que tenha se misturado em termos iguais com os pobres sabe disso muito bem. Mas o problema é que as pessoas inteligentes e cultas, justamente aquelas que deveriam ter opiniões liberais, jamais se misturam com os pobres. Pois o que a maioria das pessoas instruídas sabe sobre pobreza? Em meu exemplar dos poemas de Villon traduzido para o inglês, o editor julgou necessário explicar o verso "Ne pain ne voyent qu´aux fenestres" em uma nota de rodapé, tão remota é a fome da experiência do homem culto. Dessa ignorância resulta naturalmente um medo supersticioso da plebe. O homem instruído imagina uma horda de sub-homens, desejosos apenas de um dia de liberdade para saquear sua casa, queimar seus livros e pô-lo a trabalhar cuidando de uma máquina ou varrendo um banheiro. "Antes qualquer coisa", ele pensa, "qualquer injustiça, a libertar a plebe". Não vê que, uma vez que não há diferença entre a massa de ricos e a de pobres, não se trata de libertar a plebe. A plebe, na verdade, está livre agora e - na forma de homens ricos - está usando seu poder para montar enormes moinhos de tédio, tais como os hotéis "elegantes".

G. O.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

na pior

Quando você se aproxima da pobreza, faz uma descoberta que supera algumas outras. você descobre o tédio e as complicações mesquinhas e os primórdios da fome, mas descobre também o grande aspecto redentor da pobreza: o fato de que ela aniquila o futuro. Dentro de certos limites, é mesmo verdade que quanto menos você tem, menos você se preocupa. Quando você tem cem francos,fica à mercê dos mais covardes pânicos. Quando tudo o que você tem na vida são apenas três francos, você se torna bastante indiferente: três francos vão alimentá-lo até o dia seguinte e você não pode pensar adiante disso. Você fica entediado, mas não tem medo. Pensa vagamente: "Em um ou dois dias estarei morrendo de fome - chocante, não?". E então a mente divaga por outros assuntos. Uma dieta de pão e margarina proporciona, em certa medida, seu própio analgésico.
E há outro sentimento que serve de grande consolo na pobreza. Acredito que todos que ficaram duros já o experimentaram. É um sentimento de alívio, quase de prazer, de você saber que está, por fim, genuinamnte na pior. Tantas vezes você falou em entrar pelo cano - e, bem, aqui está o cano, você entrou nele e é capaz de aguentar. Isso elimina um bocado de ansiedade.