terça-feira, 11 de dezembro de 2007

cama-de-gatos


E vão todos à merda. E eles foram. Levantaram-se um a um de minha mesa e um a um foram se acomodar na mesa dos incomodados e é isso aí, os incomodados que se mudem. Eu acomodado estava acomodado fiquei, remoendo o chiclete da raiva, nham, hum, que macio meu ódio, maleável, e com que elegância desliza por dentro de mim, esquentando meu sangue. Não eu não vou desperdiçá-lo com a fila do banco, não, nem com a política. Muita calma nessa hora.
Você, que não saiu quando teve oportunidade, antes de meus dentes trincarem, não vou desperdiçá-lo com você também.
Céus, onde há algo ou alguém digno de meu ódio?
Pago a conta, cumprimento todos os ausentes, dou boa noite, dou gorjeta, vou para casa e dou-me um tiro, dois? Dez não resolveriam.
Eu gostaria de estuprá-los todos, eu gostaria de ser polícia pra poder matar numa boa, eu gostaria de ser filho de juiz, pra poder matar e estuprar numa boa.
Na impossibilidade de odiar de verdade, amo de mentira.
Isso acaba trazendo-os de volta à minha mesa, que ironia, e isso os faz dignos do que realmente sinto, que sorte a minha. Dou graças ao diabo por essa divina providência e sigo amaldiçoando indistintamente. E venham todos à merda comigo, amigos, sejam vocês os astros desse meu vácuo, ardam nas minhas cinzas. Deixem-me ser o nada que os sustenta, o zero que os aguarda no fim das contas, o buraco no fim da estrada. A cama dos acomodados. Venham, é por aqui.

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