-E pra provar que falo sério vou queimar muito dinheiro em notas de dez, em praça pública.
A massa humana deu uma sacolejada, em pouco tempo apareceu alguém com a gasolina, ele tinha fósforos, saiu pra sacar a grana, a multidão o acompanhou.
Foi até o banco, sacou, trocou, saiu todo feliz. Apareceu a TV. Perguntaram ao povo o que era aquilo. -Alguém vai queimar dinheiro. -Por quê? -Pra provar que não vale nada. -É louco? -Só pode.
Não teve paciência de esperar a praça chegar e mesmo andando o mais rápido que podia começou a queimar as notas de dez ainda no caminho.
-Com licença, como o senhor se chama? Por que faz isso? O homem seguia queimando, deu-se mesmo ao luxo de acender um cigarro com duas de dez flamejantes. Alguém saiu do meio da turba, arrancou-lhe o maço e saiu correndo. O homem disparou atrás, o povo atrás do homem. Encontraram-no mais à frente, já com o dinheiro na mão e os pés no ladrão, chutando-o. -A gasolina! Vai ser aqui mesmo. Chegou a polícia. O homem sacou uma arma. Começou a correria. A polícia disparou. Gente corria pra longe do homem, pra se salvar, gente corria pra cima do homem, pra salvar o dinheiro, a polícia correu pra cima da gente, começou o quebra-quebra. O homem não sobreviveu. O dinheiro passa bem.
D. Maria viu pela TV Sr. Zé no meio da confusão. Naquela noite ele chegou em casa tarde, manco, cheirando a gasolina e feliz, estranhamente feliz.
-Mulher, você não vai acreditar, eu estava na praça jogando xadrez quando chegou esse cara, pediu uma informação, pediu um cigarro, pediu um cartão telefônico, saiu, voltou, devolveu o cartão, agradeceu e começou uma conversa de que dinheiro não vale nada, e que queria gasolina pra queimar dinheiro. Ele até que tinha uns argumentos coerentes, mas ele queria qieimar dinheiro, entende? E era muito pidão. Mas daí que parece que falava sério... -Ah, parece? -É. Ele dizia que dinheiro é um pedaço de papel que a gente acredita que pode comprar tudo e por isso vale tanto. Ele disse que havia ganho muito, mas que pra isso perdeu tudo. E pra provar que estava falando sério ia queimar muito dinheiro em notas de dez ali, na praça. Daí em diante foi uma loucura só. -Eu vi, passou na TV. Você sabia que o dinheiro era roubado?
A campainha tocou, o telefone também. D. Maria foi atender a porta, Sr. Zé começou suar frio.
Foi até o banco, sacou, trocou, saiu todo feliz. Apareceu a TV. Perguntaram ao povo o que era aquilo. -Alguém vai queimar dinheiro. -Por quê? -Pra provar que não vale nada. -É louco? -Só pode.
Não teve paciência de esperar a praça chegar e mesmo andando o mais rápido que podia começou a queimar as notas de dez ainda no caminho.
-Com licença, como o senhor se chama? Por que faz isso? O homem seguia queimando, deu-se mesmo ao luxo de acender um cigarro com duas de dez flamejantes. Alguém saiu do meio da turba, arrancou-lhe o maço e saiu correndo. O homem disparou atrás, o povo atrás do homem. Encontraram-no mais à frente, já com o dinheiro na mão e os pés no ladrão, chutando-o. -A gasolina! Vai ser aqui mesmo. Chegou a polícia. O homem sacou uma arma. Começou a correria. A polícia disparou. Gente corria pra longe do homem, pra se salvar, gente corria pra cima do homem, pra salvar o dinheiro, a polícia correu pra cima da gente, começou o quebra-quebra. O homem não sobreviveu. O dinheiro passa bem.
D. Maria viu pela TV Sr. Zé no meio da confusão. Naquela noite ele chegou em casa tarde, manco, cheirando a gasolina e feliz, estranhamente feliz.
-Mulher, você não vai acreditar, eu estava na praça jogando xadrez quando chegou esse cara, pediu uma informação, pediu um cigarro, pediu um cartão telefônico, saiu, voltou, devolveu o cartão, agradeceu e começou uma conversa de que dinheiro não vale nada, e que queria gasolina pra queimar dinheiro. Ele até que tinha uns argumentos coerentes, mas ele queria qieimar dinheiro, entende? E era muito pidão. Mas daí que parece que falava sério... -Ah, parece? -É. Ele dizia que dinheiro é um pedaço de papel que a gente acredita que pode comprar tudo e por isso vale tanto. Ele disse que havia ganho muito, mas que pra isso perdeu tudo. E pra provar que estava falando sério ia queimar muito dinheiro em notas de dez ali, na praça. Daí em diante foi uma loucura só. -Eu vi, passou na TV. Você sabia que o dinheiro era roubado?
A campainha tocou, o telefone também. D. Maria foi atender a porta, Sr. Zé começou suar frio.
-Alô? -Papai? -Sim? -D. Maria? Detetive Marins. -Alô. -Papai? -Pois não? -Seu marido está? -Papai? -José?
No hospital, Sr. Zé soube que infartara. Medicado, ao lado da esposa e do filho, começou aos poucos a relaxar, mas não muito: "Ainda falta o tal Marins."
-Muito bem, Sr. Zé, vou direto ao ponto, onde está o dinheiro? -Que dinheiro? -Nós sabemos que o Sr. estava lá, sua esposa confirmou. -Ela também disse onde está o dinheiro? -O Sr. a acusa de cúmplice? -Eu a acuso de ignorante, mas isso não é da sua conta. -Então não vai colaborar? -Já colaborei muito, agora aposentei. -Não saia da cidade. -Não pretendia.
Em casa, após a janta, a sós com o filho, Sr. Zé começou uma conversa esquisita e curta. -Preciso que pegue algo pra mim, mas não quero que faça perguntas. -E o que ganho com isso, papai?
Zé não respondeu. Não conseguiu recuperar o dinheiro. Nunca conseguiu sequer dar uma conferida, e começou a desconfiar de sua memória, se todo aquele dinheiro existiu mesmo... Piorou, por fim morreu, pobre, meio louco, estranhamente feliz.
No hospital, Sr. Zé soube que infartara. Medicado, ao lado da esposa e do filho, começou aos poucos a relaxar, mas não muito: "Ainda falta o tal Marins."
-Muito bem, Sr. Zé, vou direto ao ponto, onde está o dinheiro? -Que dinheiro? -Nós sabemos que o Sr. estava lá, sua esposa confirmou. -Ela também disse onde está o dinheiro? -O Sr. a acusa de cúmplice? -Eu a acuso de ignorante, mas isso não é da sua conta. -Então não vai colaborar? -Já colaborei muito, agora aposentei. -Não saia da cidade. -Não pretendia.
Em casa, após a janta, a sós com o filho, Sr. Zé começou uma conversa esquisita e curta. -Preciso que pegue algo pra mim, mas não quero que faça perguntas. -E o que ganho com isso, papai?
Zé não respondeu. Não conseguiu recuperar o dinheiro. Nunca conseguiu sequer dar uma conferida, e começou a desconfiar de sua memória, se todo aquele dinheiro existiu mesmo... Piorou, por fim morreu, pobre, meio louco, estranhamente feliz.
Um comentário:
isso me lembrou a história do avião cheio de dinheiro que caiu numa cidade do interior. papel, apenas papel.
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