segunda-feira, 7 de abril de 2008

Rambo 1000


Na tela ela não parece ela. O herói corta outra garganta, levanta, sacode a poeira, mas é tarde, ela está morta, ele quer vingança.
O cano em minha cintura começa a me incomodar, não consigo ficar confortável em nenhuma posição.
O herói armado até os dentes invade o QG inimigo e não economiza munição, ele é rebelde porque o mundo quis assim, um dia teve um jardim, mas é mais hábil com uma metralhadora. Ninguém quer saber. A garota do meu lado não fecha a matraca. Não importa. Eu já vi esse filme antes, está indo para sua melhor hora. O herói destruiu seus inimigos, mas não está satisfeito, ele quer seu jardim de volta e por isso chora e aponta a arma para a própria cabeça. Ninguém se importa. Eu me levanto e vou até a tela, eu gostaria de dizer-lhe que o entendo, que compartilho de sua dor. Em vez disso eu saco a arma e disparo contra a platéia. Na vida como na arte. Às minhas costas meu herói muda de idéia e dispara sua última bala em mim. El Lobo saves the world again. Ninguém se importa. Eu continuo atirando. Recarrego. Faço mira. Disparo uma, duas, três vezes. Estou só no cinema. O filme pára antes do fim, as luzes acendem, aponto a arma para minha cabeça, era uma vez um jardim.

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