sábado, 28 de junho de 2008

Psicoanatomorfofisiologia Deglutiva


Da boca ao esôfago é uma longa jornada quando o que se engole é uma espada, e lá vai bala, Voreux. Na altura da glote, uma torcida aí, e uma encaixadinha, para avisar ao íleo que não é de deglutir, e então, é só ladeira abaixo, do dito ao feito, um longo trecho que chega ao fim. Já comer vidro em cacos, isso é outro papo, coisa de profissional, cavalos batizados...

E sapos, sapos não são de engolir.

Se meus girinos te dão náusea, não é o caso de cuspir? Ou engole de vez essa porra, baby, é tarde, a lua é cheia, a cama vazia, você já está há meia hora aí em frente a esse espelho com essa cara de desterro, engole isso e vem dormir.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

domingo, 15 de junho de 2008

Em Amorfolópolis é assim


Amorfolópolis: Os homens peixe e a família progérica, eles compram laranjas e mangueiam o preço como todos, os turcos, os punks, os pitiboys, os emos, os manos e os americanos, eles também só querem ser amados.

Em Amorfolópolis é assim, nove vírgula seis metros por segundo ao quadrado, preto é preto, branco é branco, azul é azul e são quinze laranjas por cinco dinheiros. Os bebês nascem pequenos e vão crescendo até ficarem grandes, como os prédios e as árvores, e aí eles vêm abaixo e crescem mais, maiores, até arranharem os céus com suas antenas, uma história tão velha...

Não existe vida para além de Amorfolópolis, essa é uma verdade tão perene quanto sua necessidade, pois Amorfolópolis vive, e quanto mais viva, menos estrangeira, se há vida, é aqui sua casa, além, nada. Os Filhos de Watson e Crick no Jardim de Charles Darwin, crescendo, mudando a voz, criando pêlos, chifres, crinas, caninos, escamas, trocando de pele. Fincados à terra, pairando no céu, oniscientes.

Finda a feira o velho mutante volta para casa, no quadragésimo quinto andar de um prédio em franca ascensão, e prepara o café, a água ferve a cem graus centígrados, o café é expresso, forte, sem açúcar. Ele o toma com torradas acompanhando pela janela o fluxo na rua, que hoje é da direita para a esquerda. Amanhã, quem sabe.

sábado, 7 de junho de 2008

this is it


Eu não sei como diabos gente que não tem absolutamente nada em comum como eu e Cleomar se topam. Às vezes eu dizia as piores barbaridades só pra testar sua reação.
- Cleomar, tu ainda toca punheta?
- Tu não?
- Tirando catota.
E vice-versa, como a vez que botou por cima de mim na faixa de pedestre porque queria me ver blasfemando em público. E viu. E acabou-se de rir, parando o trânsito.

Eu sonhei com você dançando, cara, achei estranhíssimo porque só em sonho mesmo pra te ver dançando. Foi uma última firula, né? Quase morro de susto quando perguntei por tu, achando ainda graça do sonho, e me disseram que tu não acordou.

Adeus meu camarada Cleomar. Todos os caminhos abertos à sua frente como um leque de ouros em sua mão. Pelo que me consta não conheceste o fim de teu nome, que ele dure, gente como eu precisa que haja gente como tu.