Quando você se aproxima da pobreza, faz uma descoberta que supera algumas outras. você descobre o tédio e as complicações mesquinhas e os primórdios da fome, mas descobre também o grande aspecto redentor da pobreza: o fato de que ela aniquila o futuro. Dentro de certos limites, é mesmo verdade que quanto menos você tem, menos você se preocupa. Quando você tem cem francos,fica à mercê dos mais covardes pânicos. Quando tudo o que você tem na vida são apenas três francos, você se torna bastante indiferente: três francos vão alimentá-lo até o dia seguinte e você não pode pensar adiante disso. Você fica entediado, mas não tem medo. Pensa vagamente: "Em um ou dois dias estarei morrendo de fome - chocante, não?". E então a mente divaga por outros assuntos. Uma dieta de pão e margarina proporciona, em certa medida, seu própio analgésico.
E há outro sentimento que serve de grande consolo na pobreza. Acredito que todos que ficaram duros já o experimentaram. É um sentimento de alívio, quase de prazer, de você saber que está, por fim, genuinamnte na pior. Tantas vezes você falou em entrar pelo cano - e, bem, aqui está o cano, você entrou nele e é capaz de aguentar. Isso elimina um bocado de ansiedade.
2 comentários:
só tomar cuidado para não achar que está na pior, mas na verdade não estar nem na metade do caminho ainda. tem gente que não tem mesmo a vaga ideia do que é estar na pior de verdade.
o conselho é pra mim ou pro george orwell? se for pra mim dispenso.
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