domingo, 16 de dezembro de 2007

In Bob we trust.


Há essas vinte e tantas letras e eu não sei bem o que fazer com elas agora que o tempo parou. Eu já me debati tanto... Já estamos às claras, a festa acabou, ficamos até seu final, o seu, não o meu, amigo, não foi por falta de aviso, afinal, tudo já foi dito, e creio que não resta muito a fazer agora, que o tempo parou.
Há essas vinte e tantas letras e elas são o ar que respiro, mas não pagam aluguel, nem sequer desconfiam que uma estupidez dessas exista e continue existindo mesmo agora, que o tempo parou.

Firme. Rente. Amoral. Ouvindo mais do que falando, e vendo mais do que mostrando. Rumo aos milhões de segundos mágicos piscantes, ou diretinho para o inferno. Orever. Yo.
Em carne viva, curtindo a brisa, como Adão, lá parado, pelado, olhando para o alto, esperando a chave da casa vermelha cair do céu aos meus pés de barro e pensando, pensando...
E se a chave não abre a porta como na canção, e se deus não existir, e se eu for demitido, e se eu me demitir, e se eu mudar de cidade, de mulher, de carro, de sexo, de profissão. E só o que dá por ora é espreitar pelo buraco da fechadura:

"Observando o céu com sua luneta mágica o cientista percebeu uma estrela que ao menos para ele era nova e deu-lhe seu nome. Quando calculou a idade de sua descoberta ocorreu-lhe que talvez tenha sido ele a receber o nome dela, e depois concluiu que orever, tanto faz, quem espiona se mostra".

Então, quando viu pelo buraco da fechadura que do outro lado estava ele vendo que do outro lado estava ele com um olho aqui e o outro lá cuidando do de cá, pirou. Yo.

Essas vinte tantas letras, eu não sei o que fazer com elas. Estamos todos aqui agora, que o tempo parou, tudo já foi dito, estamos às claras e o mundo acabou e ainda assim elas despregam de seus batentes se encadeiam e seguem em frente, tão belas, e já me debati tanto, eu não sei o que fazer com elas.

E subtamente, toc - toc, toc - toc, do outro lado, e isso meio que desentope meus sentidos e percebo os sons da rua, os motores e os sinos e tem até um passarinho, e todos esses sons lá fora enquanto os móveis me olham mudos aqui dentro. Na rua, os postes, os muros, as buzinas me dão boa noite, um bar acena para mim do outro lado, fosforescente, lá haverá um café ou uma cerveja, um jornal, e enfiada entre mortes, estupros, corrupção e um monte de mentiras, uma boa notícia. Vamos à ela.

Robert Zimmerman tinha essa habilidade nata em fuçar o lixo social, por assim dizer. Morte no eixão, roubo no Masp, milagre do crescimento, Beatrix, 18 aninhos, sol em sagitário e lua na casa do caralho; havia um padrão ali, e Bob iria sacá-lo, de um jeito ou de outro. Então, enquanto atravessava a rua com suas botas de caubói e sua gaitinha fon-fon indo em direção às good news e a uma cerveja gelada, decididamente, viu que na contramão dele vinha, estão prontos? Ele mesmo. Nem aí Bob diz hey, Bob, à Bob, e continua em direção aos milhões de segundos mágicos piscantes, ou diretinho para o inferno, e nisso, o bar, a cerveja e as notícias. O mundo acabou. O tempo parou. Estamos às claras. As mesmas notícias de sempre passavam por ele nas entrelinhas das colunas, artigos, crônicas e ele não quer mais saber do que já sabe, ele quer saber onde tudo isso vai dar, em pizza, é o que eles dizem, mas Bob não crê em nada que escuta, aliás, ele crê, em tudo, o que dá no mesmo, não é? Para Bob tanto faz a CPMF e a invasão alienígena, mesmíssima merda. Mas, Língua de fogo mata sete cães no Gama e Músico fica recluso após acidente de moto, há algo aí, rebolando no vento...
Mais uma cerveja, mais uma ficha, mais uma música. Mais uma olhada no jornal. A conta. E aí, Bob, What´s up, What´s up, Bob? Bob fica perguntando-se enquanto atravessa a rua distraído, absorto. Ele percebe que há algo acontecendo agora mesmo, na sua frente, mas, o quê? É como olhar-se pelo buraco da fechadura, aquela toca de coelhos brancos onde está-se sempre atrasado porque o tempo parou, você vê-se fazendo o que você faria e quando dá-se conta, pronto, está feito.
Bob ainda não sabia qual é a boa e decidiu não voltar para casa ainda, não voltar para casa enquanto não descobrisse, não voltar para casa nunca mais, quando descobriu que ali não era sua casa, e afinal decidiu que não há um lar para Bob, melhor comprar uma moto, uma Harley.

Na porta de casa, de volta do bar, achei que seria uma boa idéia uma saideira, talvez achar alguém com quem possa conversar. Fiquei ali parado um instante, observando o movimento, era véspera de natal e havia muita gente indo e vindo e todos falavam com todos e a rua estava enfeitada, piscando, toda meretriz, então, sem pensar, por impulso, bati à minha própria porta, como se quisesse me acordar lá dentro, aqui dentro, e voltei para a rua. Haverá ao menos uma boa festa em todo este maldito lugar, longe, onde não chegue o espírito de natal, e com todos os demônios eu estarei nela. Eu não tenho nada, não tenho nada a perder, então, aposto alto, aposto tudo em mim mesmo. Ouro, copas, paus e espadas, cinquenta e seis cartas, vinte e dois arcanos, vinte e tantas letras, sete notas, e para sorte ou azar, ainda estão rolando os dados, e para sorte ou azar, parece que rolarão eternamente.

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

cama-de-gatos


E vão todos à merda. E eles foram. Levantaram-se um a um de minha mesa e um a um foram se acomodar na mesa dos incomodados e é isso aí, os incomodados que se mudem. Eu acomodado estava acomodado fiquei, remoendo o chiclete da raiva, nham, hum, que macio meu ódio, maleável, e com que elegância desliza por dentro de mim, esquentando meu sangue. Não eu não vou desperdiçá-lo com a fila do banco, não, nem com a política. Muita calma nessa hora.
Você, que não saiu quando teve oportunidade, antes de meus dentes trincarem, não vou desperdiçá-lo com você também.
Céus, onde há algo ou alguém digno de meu ódio?
Pago a conta, cumprimento todos os ausentes, dou boa noite, dou gorjeta, vou para casa e dou-me um tiro, dois? Dez não resolveriam.
Eu gostaria de estuprá-los todos, eu gostaria de ser polícia pra poder matar numa boa, eu gostaria de ser filho de juiz, pra poder matar e estuprar numa boa.
Na impossibilidade de odiar de verdade, amo de mentira.
Isso acaba trazendo-os de volta à minha mesa, que ironia, e isso os faz dignos do que realmente sinto, que sorte a minha. Dou graças ao diabo por essa divina providência e sigo amaldiçoando indistintamente. E venham todos à merda comigo, amigos, sejam vocês os astros desse meu vácuo, ardam nas minhas cinzas. Deixem-me ser o nada que os sustenta, o zero que os aguarda no fim das contas, o buraco no fim da estrada. A cama dos acomodados. Venham, é por aqui.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

ácido fincado


ele usa terno de linho branco, ele surgiu de um buraco no chão, ele me disse que está tudo bem agora e que tudo só pode dar certo, que eu não me preocupasse com nada, que andasse pelas ruas sossegado, observando os detalhes que me apontava com seu indicador. ele falava macio ao contar as notícias de amanhã ainda hoje. o que o faz achar que preciso disso? por que ele não volta por onde veio?

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

" gostas que te lambam, baby? "


...banho-te à gato, pois. beijando teus olhos, dois, chupando teus dedos... seis? e essa cauda, mô, estava aqui antes? (muito inconsequente essa minha tara por mutantes).

terça-feira, 20 de novembro de 2007

novesfora, dez


Vamos.
O futuro não nos reserva nada que já não esteja agora mesmo nos esperando na esquina onde estamos indo, indo, indo, destino.
Vamos. E quanto maior a estrada mais alto o grito:
Rasguem-se as calçadas onde passo, guia-me esse alvo onde fito.

"calculismo e sangue frio"


Quando o cd de Chat Baker entrou na terceira rodada consecutiva, enquanto fixava F em oito com um dos doze parafusos G, if you could see me now, dizia Baker, a chave de fenda derrapou e, não por isso nem pela dor que sentiu no indicador, mas nesse momento, ele viu. Uma imensa fenda abriu-se em sua testa e lá em baixo pelo chão daquele cânion corriam crianças. Sim, ele viu. A, três, e com ele G soltaram-se do conjunto. Vinte vinte eme dê efe, sorriu o relógio de parede, cansado de repetir todo dia três e quinze àquela mesma hora. B, D, F e H ficaram suspensos no ar, ricochetearam pelas paredes enquanto um e nove passeavam pelo teto. – You can see me now, gritou Baker, enjoy it, man, endossou o ventilador, e outros fatos ainda ocorreram, o tempo todo ocorrem, não cabe aqui cataloga-los, o que importa mesmo é que ele viu. Sim, senhoras e senhores, ele viu... Mas não percebeu. F foi fixado em oito por G como dita o parágrafo dois da página três do manual e você não pode mais me ver. E sobre um ficou a tv, sob quatro o som. On

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

meu nome é igual



cheguei lá, fui o primeiro, logo chegou mais um, dois conhaques, mais dois, e de repente já éramos dez bêbados, onze, chegaram todos, fechamos a conta e saímos de lá para mais longe, muito mais longe, onde não havia eletricidade, cadeiras, camas, mas quem se importa, as paredes estavam lá, e agora éramos sei lá quantos já, todos gritando ao mesmo tempo, durante várias horas, ininterruptamente, só meu amigo Mr. Hippie Sujo que de vez em quando parava porque entuou que aquilo dava um samba, não o culpo, quando chegar em casa certamente vou tentar escrever isso, mas isso de chegar em casa ainda vai demorar muito, agora tenho mais com o que me ocupar, respirar, por exemplo, já que essa gargalhada me tirou todo o fôlego e não consigo parar de rir, então fujo, tomo fôlego, volto, tudo de novo, eu imploro para que eles parem com aquela coreografia mas eles não me ouvem, os lunáticos, as lágrimas começam a escorrer como um rio, a barriga dói, os vizinhos estão batendo lá embaixo, só eu os ouço, mas finjo que não é comigo, aí começam os hinos, à bandeira, à pátria, ao soldado, dou um gole na cerveja quente e sinto um gosto salgado, bebi minhas lágrimas, engoli meu choro, ha ha ha, ha ha ha ha ha, então meio a contragosto comento que acho que ouvi alguém batendo lá embaixo.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

02-11


E eis também que o tempo passa e hoje é dia dos mortos. Foi dito anteriormente que o Sr. R ia de encontro à sala de espelhos. Se cada vela que arde uma alma e cada vivo uma chama que esvaece, ei-la.
Aqui, no lugar chamado Cruzeiro, aonde por costume neste dia os vivos vêm lembrar seus mortos e ajudá-los a encontrar seu caminho por meio da luz que arde em cada um desses pavios que são tantos, a terra ajuda ao céu lembrar-se de como criar a noite estrelada, afinal o que implode aqui certamente explode por lá, e com essa analogia refiro-me à vida, antes apelidada chama, que presa no pavio pífio da carne, derrete em lágrimas o círio dos anos, levando-nos de volta para a noite de onde viemos um dia. Um dia como hoje. Feliz aniversário Maria.

sábado, 20 de outubro de 2007

Universal Zulu Nation


17:38h. A vida lá fora mexe-se em direção ao breu e com ela eu.
Tentando tomar chá da maneira mais correta, ciente de que tudo depedende disso, eu.
Termino meu chá e olho pela janela deus. Negro, soturno, letárgico, deus em quarto-minguante chove noite à nossa volta e ela escorre nossas costas e nós sentimos frio e medo, nós rezamos muito mesmo para o dia vir mais cedo, pois barro e água à sonho e chama, sabe um homem do que é feito: Simples como olhar no espelho, à hora póstuma.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

"Alô? Telefone pra você"


Eu te avisei, baby, drogas e rancor nunca foi uma mistura saudável. E se um morcego de repente esbarrar em você, não se apavore, ele se liga e vaza.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

A grande mente capta


Do grande olho do centro do sol irradiam rios de luz azul sobre a minha madrugada e é manhã novamente em mim, eu abro então o pequeno olho remelento em minha testa, caminho até a janela e grito à rua que sim! Seja lá o que for, sim. Do olho da rua vazia o grande mentecapto ri seu sorriso banguela de volta pra mim: Eu acho que sou eu lá. Eu acho que é você aqui.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

sábado, 6 de outubro de 2007

O mundo é um moinho de vento


He he, o mundo é grande e a vida curta vai virando suco em sua engrenagem, slup. - Garçom, eu pedi de laranja. - Não senhor, o senhor perguntou se tinha de laranja e pediu acerola. - E por que eu perguntaria se tem laranja se não fosse para pedi-lo? - Questão particular sua, mas foi assim que foi. - Ora não se faça de esperto. - Eu já peno muito pra me fazer de garçom. Na verdade sou um ser humano. - Pois eu garanto que seu patrão não sabe disso, e a menos que queira que saiba acho bom trocar esse suco.

me and the devil blues


No entanto, e por mais que até agora tenha tão habilmente escapado do fim, ali estão ambos novamente, embora no palco só se veja um, este que sentado sobre uma caixa amplificadora põe-se a lustrar seu trompete, levantando de vez em quando a cabeça como se esperasse alguém que, não se iluda meu caro, não vem, ela já está casada e com filhos, ela pertence à outra estória menos interessante, esta sua estrada dos loucos vai para outro lado, aquilo que houve entre vocês lá na praça foi só o xis da encruzilhada que se completa com a estrada dos sãos, por onde vai ela e já longe. E é neste xis onde está sentado o diabo, não? Não é lá o lugar onde as almas se perdem? Sim, e também o lugar onde surgiu esta canção:
-Senhoras e senhores...
(Ainda há tempo?)
(Terminarei meu cigarro antes de tragá-lo.)
-Senhoras e senhores, Crossroad Blues.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Saudações Humanos


Nós viemos em paz. Atráves de anos-luz de observações utilizando nosso aparelho dedutivo superior, alguns chips implantados e muita malícia, estamos finalmente tête à tête, como dizem aqueles squizos da terra de Guillotine. Mycobacterium Leprae, muito prazer. Dêem-me cá suas orelhas e conto-lhes uma estória. Seguinte: O que acham que estão fazendo? Para isso há tempo e lugar, e não é aqui e agora, certamente. Vocês sabiam que em breve evoluirão à vermes? Não é ótimo? Acabamos de vir de lá, curtimos horrores. Escutem, se puderem, he he, se forem realmente espertos, por que não tentam dar uns saltinhos à pulga até vírus?

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Nº 9


Desconheço autoridade, não endosso estado ou propriedade. O solo balança sob os pés dos que caminham sem firmeza sobre a terra. Eu me sento em frente à matriz, acendo um cigarro, aprecio um pouco a hoje úmida praça João Pessoa. O mundo, apesar de desse observatório em que me encontro ser pouco perceptível, ao que parece, continua girando loucamente no nada: ainda um galo-de-briga entupido de anfetaminas e solto na rinha vazia. Acima do céu onde brilha, Marte está: A verdadeira estrela vermelha, o Soviet Supremo. Um milhão de anos-luz abaixo, com os olhos ofuscados pela luz que abriu caminho entre as nuvens e estampa os capôs, entre o polegar opositor e o indicador, em uma paina, eu moldo um ninho aonde as idéias venham se acomodar. ... Eu decido então parar de fumar, e dou um piparote no cigarro que cospe sua cinza que mergulha, quica em meu tênis, dá um mortal triplo, ou duplo, não estou bem certo, e estatela-se no chão, vencida por Newton. Sopro umas rosquinhas de fumaça pra um São João Juquinha qualquer, santo das apostas impossíveis, protetor dos galos tresloucados... E ouço as árvores dizerem saudades… Ouço os tijolos gritarem poder. E penso em você, mocinha. Penso na biblioteca universal pendendo de teus cachos. Em todas as sereias, centauros e borboletas que você carrega em seu olhar. E em todas as fadas, et´s, anjos, jardins, a porra toda, que me vem quando pouso a cabeça entre tuas pernas. Penso na vida em comum. Penso em...
Sei lá, mil coisas.
Eu voto em mim. With a little help from my friends: Sr. Stevz Logo and Mr. Gomez Cartaz, "Vá, e diga ao mundo que você está certo", mais uma campanha sirva/serecords.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

NEVER MIND THE BOLLOCKS...


... here´s A MÂE DE QUEM ? - the complete records

1. A Baca tem doca?
2. Assalto na esquina
3. Cigana Salomé
4. Veado Requinguela
5. Mom is underground
6. Circo dos horrores
7. Vira a língua que lá vai hóstia
8. Na cama
9. Arlete e o prensadão
10. Sweet Poney
11. Não há pôneis lá
12. Bônus Tracks

Letras aqui

domingo, 30 de setembro de 2007

Bongo Fun


In a world, where the streets have no name, where corners doesn´t exist, a man, a free spirit, he was leave whith the animals, "they do not have badness in the heart".

impregnando.


Uma palavra que encontra uma voz é uma verdade, fale .

sábado, 29 de setembro de 2007

Zappa


Vejamos, essa é definitivamente uma situação limite. Em um caso desses, segundo li num site de psiquiatria aplicada a realidade objetiva, a mente humana tende a instalar uma situação em que o corpo, por inaptidão, não entre em colapso, Cabeção, em outras palavras, precisa de referencias. Um solo por onde seus pés corressem seria um bom começo, então, aqui vai uma dura, áspera, cáustica, rústica e cheia de rachas, calçada. Sim, esse foi um bom começo, cabeção deve estar sentindo-se um pouco mais aliviado. Não o suficiente para parar de correr, decerto, mas se, por exemplo, em seu desespero tropeçar nas próprias pernas, não correrá mais o risco de perder-se no espaço. Não, ele agora tem uma dura, áspera, e consolante calçada para, a custa de uma ou outra esfoliação, abrigar-lhe do vazio absoluto do mundo real. Que sorte tem cabeção. Ele quase dá graças à deus quando suas mãos espalmadas derrapam pela tez crespa do calçamento deixando nele impresso, ai, seu espesso sangue O negativo cada vez mais doador universal. Quando ele sentiu a dor em seu joelho esquerdo ele abraçou-se amorosamente às milhões de rachaduras daqueles blocos entremelados pelo calor e chorou de alegria e alívio.

bmx shit park


Eu sempre consigo o que quero pedalando na minha bmx. Eu posso ir onde quiser, e , oh… Há muitos lugares onde se ir.
De cá pra lá e lá pra cá em zigue-zague, casas, postes, placas, carros, um monte de gente nada a ver, vai tudo indo para trás, dissolvendo, desintegrando, misturando, virando quimo, sendo absorvido pelos bueiros e cagados pelas fossas clandestinas nas águas limpas desse nojo em que a civilização transformou-se justamente por querer renegar a própria imundície. Que merda.
Débeis, patéticos, neuróticos.
Ah, quanta merda.
Hum.
Merde
Não falei? Eu disse. Eu conheço bem a minha vizinhança. Aqui, em um lugar desolado como esse, nesse sereno, um lugar ermo, um terreno baldio como a alma desses porcos-mirins, e ainda mais a uma hora dessas, é um lugar que convém a uma cagada.
Pois bem, aqui, assim, de cócoras, olhando por entre as pernas vou me vendo parir merda e virar gente, porque gente é assim, gente gosta de sujeira, e de ofender e humilhar e cuspir e estuprar e atirar nos outros pelas costas, mancomunar, e de gozar na cara dos outros, e de se arreganhar pra ser fodido porque se goza assim também, e de trair… Gente gosta de escrotidão, de pegar ela nas mãos e de passar ela no rosto pra sentir o cheiro, porque isso deixa o pau duro, a boca cheia, o cu latejando e a buceta mais molhada, e é o cu, o pau, a boca e a buceta e as víceras quem nos diz se a gente está vivo, se ainda está vivo. E eu estou.

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

luscofusco


“Impossível não ficar frente a si mesmo quando se está em uma sala cheia de espelhos”. A analogia é recorrente. Aqui e ali, em músicas, compêndios e livros, a encontro, mas essa sala é uma analogia de quê? Bem, dia desses, falando com uma coruja que caiu do céu de um choque, fiquei sabendo que é melhor não pensar nessas coisas. É melhor olhar por onde anda.

tic-tac


tic-tac.
-olhe com atenção para este relógio, acompanhe-o... Você começou sentir-se a perder tempo, muuuuuito tempo, já está a irritar-se, não tarda e pendura-se pelo pescoço com esta corda que o faz funcionar, esta corda que apesar de fictícia tensiona a não mais poder, e parte-se para longe em estilhaços de tudo enquanto, você, olhe novamente agora, o que vê?
-um relógio de bolso balançando pra lá e pra cá.
-muito bem, seu tempo acabou. amanhã à mesma hora?

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Hulks são de Marte, Smurfs são de Vênus


Zip, zap. Miss Uchoua ainda teve tempo de dar uma ou duas apeladas e então viu sua vida passar ante os olhos enquanto caía deselegantemente. Entre sua janela e a do quinto andar ocorreu-lhe que Hulks são de Marte e Smurfs são de Vênus. Entre o quarto e o segundo andar ela viu o dia de seu casamento, o de sua morte e o de seu nascimento, puta vida tediosa, hein? Mas havia algo errado ali pois em sua visão não era assim que ela morria, era dali há três dias, em uma cama de hospital, cheia de hematomas de uma sova dada por uns grandões. Lady Knife fechou então os olhos, desejou morrer e se estabacou.
Enquanto a calçada recebia sua ex-mulher, seis andares acima, o agora viúvo Yutakai dava as costas e voltava à sala, bzzt.
Bzzt, bzzt. Uau! Yeah…

Sing a song, bro.

Ele está novamente soprando aquela lata velha na sacada. E os vira latas estão novamente uivando de volta. E a música que tenta extrair do metal é a mesma, uma canção que começou compor há muitas doses atrás e que nunca acaba porque o que ele quer com aquela corneta não é compor uma música, é construir uma ponte, o louco.
Nove andares abaixo, a cidade amarelada pelo sol poente, à exemplo dos cães, ergue quase até ele as pontudas orelhas de suas velhas igrejas:

-Hein?
-Blues.

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Que Mário?


E enquanto um gato preto ia dando seu último miau embaixo das rodas de uma jamanta, ele ia dizendo - Alô, quem é? -É o Mário, respondeu a voz do outro lado. Um trote, dos mais manjados, e ainda por cima a cobrar. -É o Mário - a voz insistiu - Você precisa me ajudar. "Essa agora já é novidade", pensou, e pôs de volta o fone no gancho, e voltou para o quarto. Quando entrou no quarto o michê lhe disse - Baby, esteve aqui um tal Mário. E todo o sangue de seu corpo lhe fugiu de sopetão. Conseqüentemente broxou, empaudurado que estava até então.

Let´s get rolling forever


E, se me permitirem uma última questão, pra que tantos mundos separados pela astronômica distância de um abraço? Hei, traz teu mundo pro meu quarto: Em minha cama cabem galáxias inteiras. Aí é só tirar um dia ruim da tomada. E fim da história. E vamos pras estrelas...

terça-feira, 25 de setembro de 2007

nervous breakdown


Mais tarde e novamente em casa, enquanto estréio o meu liquidificador, dou-me conta do ridículo, e lanço-o na parede que fica pintada de vitamina de beterraba com banana. Quebro a tv, o rádio, a moto, ligo para meus amigos, mando-os todos à merda, e vou deitar-me, meu sono intranqüilo, a cava e difícil balada dos apopléticos.

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

uchoua foice, yuta shok, eletrofight.


Subo para um último cigarro e lá alguém a despeito da banda em minha camiseta começa o que achei que fosse uma conversa e só tarde demais descubro que é um monólogo sobre o tempo que aquele imbecil passou não sei onde e sobre como ele sabe falar bem uma língua aí que um cão pronunciaria melhor. Eu então me viro para um velho que acabou de chegar enquanto o filho de uma puta acabava de sair e digo-lhe que o problema desse lugar de gente arrogante é o saldo gordo desse povo estúpido. O velho nada responde, a mulher que o acompanha lhe diz – heim? E eu me ergo, desço, pago, e saio dali. Volto para casa. Cagar e chapar. Talvez escrever uma carta, talvez um conto, dar-lhe o nome de uma música...
A night in the opera: No surprises. Let it be.

BLANK


Depois desistiu de tentar convencer-se de que não ouvia o que ouvia e, longe de tentar iludir-se, passou mesmo a dar ouvidos às suas vozes interiores, as três, não duvidando nunca delas mesmo se tentassem convencê-lo das coisas mais absurdas como chupar o próprio pau ou votar em quem quer que seja. Mesmo se, por exemplo, em uma bela manhã, a pedido de uma delas, a número dois, digamos, ele acordasse mais cedo, enxugasse a remela dos olhos, e após masturbar-se pensando em Minie Mouse, caminhasse até a cozinha, onde, depois de remexer as gavetas e escolher uma faca, a maior, e amola-la assoviando o hino nacional, cortasse da esquerda para a direita, e isso por capricho da um, seus próprios testículos e até mesmo se, já tendo ele atentado contra o patrimônio de maneira tão brutal, a dessa vez mesmo assim ainda insatisfeita voz número três o ordenasse estancar o sangue com a toalha de mesa xadrez que ganhou de sua tia para, então, após ligar a televisão e informar-se da grande sessão de descarrego que a Igreja de Jesus Cristo da Manutenção da Chama da Misericórdia Divina promoverá nesta sexta, nu, segurando uma toalha encharcada de seu próprio sangue entre as pernas, finalmente cochilar no sofá aos gritos de “aleluia”, “hosana” e “oh, glória” que disparam da tv.
Oh, não, ele não hesitaria.

1, 5, 2, 0, 3, 5, GO.



Memorando 2043 / 05-03-05 pela ocasião da implantação da ISO 9000 - A não conformidade suprema:
A funcionária C. voltou feliz das férias, e contra tudo o que reza os manuais e dita a prudência, achou por bem, e como é comum e mesmo inevitável, expressar essa felicidade - O que provocou uma Disfunção Morfoestética Policromática de Segunda Ordem, e como todos sabem, esse tipo grave e agudo de desordem ambiental e suas subseqüentes idiossincrasias representam uma ameaça em potencial à produtividade de qualquer empresa, ainda mais quando se trata de uma que objetive a saúde pública. Este fato, e suas eventuais conseqüências, não deixam de ser um curioso paradoxo em nosso sistema de saúde pública, em nosso, acrescentaria, tão capenga sistema de saúde pública. Ora, senhores, se a felicidade sincera e não dissimulada e doentia como é a mais ordinária e que pulula por aí poluindo nossas manhãs, se essa felicidade sincera e que seria o fim último (permitam-me a redundância) de todo programa de saúde constitui, ela mesma, um problema, como então, com todos os demônios, podemos um dia atingir a nossa meta? Nossa tão nobre meta… Pois, sim, alguém aí duvida que a felicidade sincera e fraterna de uns é a miséria real de outros, o riso amarelo de alguns e a alegria forçada de vários? Um caloroso (e nem por isso sincero) tapinha nas costas a todos vocês.
Atenciosamente (?), Sr. Dr. X

domingo, 23 de setembro de 2007

a contracapa da banana


Maio, 22: “Meu bem, você deve acreditar em minhas mentiras, assim elas serão nossas verdades.” Seriam, se não fosse esse nosso segredo – Respondeu a mulher, olhando-se no espelho, retocando a maquiagem, ligeiramente irritada, com um início de gastrite, duas cáries no seio superior do terceiro pré-molar, voz macia, cheirando Channel nº 666. Ele permaneceu impassível, de pé, diante da porta aberta, rua às costas, cabeça baixa, mão no bolso, cabelo assanhado, camisa amassada, suor escorrendo, furúnculo na bunda.

O idiota


Na cidade imaginária, onde só os indignados realmente estão. Muitos há. Lembro do dia em que tentei visitar o túmulo de minha mãe. Você só é de Macondo se há um defunto seu enterrado lá. Mas eu lia Moby Dick na ocasião. No caminho parei para descansar em um canteiro e as libélulas de metal espiãs de Orwell atravessaram o céu em bando. Há muitas delas aqui. Apreciei o show e segui caminho. Lá, perdi-me. Havia muitas faixas parabenizando os mortos por suas vidas e acho que isso me desorientou. Um coveiro disse que é mais ou menos aqui, acho que é esse, mas não dá pra ter certeza, são todos iguais e a chuva apagou o que risquei no cimento fresco daquele dia úmido

OK.


1. Ali imprenssado contra a parede de som ele concebeu o pior ato de vilania que jamais seria capaz de imaginar. Acendeu mais um cigarro e três tragadas depois apagou-o na cara do sujeito que o imprensava. No instante seguinte estava sendo moído pelos grandões amigos do grandão. Enquanto os grandões do grandão o moíam ele sentiu-se como se estivesse em queda livre para dentro de outra dimensão. E passou tanto tempo por lá, talvez estivesse em coma, ou talvez tivesse sonhado com aquilo, mas ele também não lembrava de ter acordado, essa questão nunca ficou bem definida para ele.
Em sua nova vida ele faz outras coisas, mas ainda é ele. “Ele agora é Eletric Lady Knife e está cruzando a praça em direção a Rua das Fuers, 36, onde mora.”

sábado, 22 de setembro de 2007

esperando um amigo


...Ele já estava ali há algum tempo. Aí encheu o saco, levantou-se e começou a andar. Um gato preto cruzou seu caminho e uma cigarra começou uma canção que logo e em escala geométrica e como um mantra, ecoará por toda cidade, e que assim seja. Cri, cri, cri...
Ri enquanto passeia desapressadamente pela calçada do meio da rua, e desavisadamente eis que o bom, bom, bom e velho relógio daquele liceu, do nada, como se já não bastasse estar com os dois ponteiros pontualmente no doze à meia-noite, começa também ribombar, ao passo que ele, ao longo da calçada, continuava em direção sabe deus donde. ... Uma missa, um encontro, um... Bar?
Ri-bom-bar! Doze vezes: meia-noite; começa chuviscar.

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Quando seis é nove


Vasta e quieta e seca a planície. O fogo vem em ciclos e casca grossa em necromassa eu explodo em mil gametas decantando, decantando e com eles descem girando em dupla hélice, helicópteros vegetais, as flores salpicadas ao vento pelo salto do passarinho em meus dendritos, ele acaba de saltar na fenda sináptica, mas e daí? ele sabe voar! Painas boiam no vento e borboletas pipocam aqui, ali, em todo lugar. A grama cresce morna, e outras espécies herbáceas, colonas. Sistema radicular profundo, subsolo adentro me ergo para cada vez mais fundo e longe de minha biomassa aérea. E em direção ao teu seio, mãe. A seiva, o sêmem. Mãe, em tua derme dormitam meus gens encubados em ninhos suculentos de minhas próprias cinzas. Sonham em germinar. Mais um quanta, rogo, e adormeço, exausta. Sonho com a Fênix. Acordo muda, em outro mundo. No céu um sol, uma lua. Vasta e quieta e marrom a colina, meu novo lar. O cheiro da terra denuncia a chuva. Mãe, que nunca nos falte de teu leite, para nosso sustento, nem de tua sombra, para o nosso descanso, amém.

O Livro das Revelações de Zackarias


... Do céu arreganhado saiu este cavaleiro e em seus olhos ardiam lazers. Quem é ele só ele sabe, mas masca giletes enquanto grita e em voz cortante avisa:

- Rendam-se terráqueos insignificantes, o mundo é grande e azul, e a vida curta e blue que levam não lhe condiz. Não há mais tempo e nem saída, e é inútil resistir. Sorte de quem não poupou, azar de quem tinha planos. Rendam-se humanos, e prometo que será sem dor.

Os urubus que estavam por ali se juntaram prevendo carniça, e ela não tardou. E aquela ponte tão bonita, modelo de engenharia e que nos levava ao outro lado, foi descendo rio abaixo levada pelo mar que a tragou, e que te pouparia, mas já vamos pelo fim do dia, agora é tarde.

- Renda-se covarde, antes que a noite caia, pois na noite enxergo melhor e não queria ter de puxá-lo de debaixo da cama nem de debaixo das saias - de padres, mães, amantes - de debaixo das leis, de debaixo de camadas e camadas de silicone, ruge, sorrisos, botox, de debaixo da grana e da fama, de debaixo da terra que tu mesmo cavou. Renda-se, acabou.

E assim foi. E quem ficou gritou vitória, mas seus gritos foram abafados pelo som de cascos sumindo para trás de um mundo findo, e findo o mundo um livro em branco de capa azul chamado vida, e mil páginas e nenhuma hora.

aerosharks



XII. ...Disse tudo isso assim mesmo, de um fôlego só, sabe como é, né? Ah, não? Então pergunte ao criado mudo de M., que não à toa é mudo, pois, “seguro morreu de velho”, e desconfiado ainda vive. No coração do prudente repousa a sabedoria, já dizia Luiz Gê, em música de Arrigo Barnabé intitulada Tubarões Voadores. E no coração do criado de M repousa duas pedras de haxixe, seis gramas de pó, uma cartela de lexotan seis miligramas, anfetaminas e psilocibes. E chá. O criado é mudo, mas se falasse, é certo que gritaria: “Cara, eu tô-mui-to-doi-do!”.

deus ex-machina


VI . Braços biomecânicos de várias dobras e calibres com fios de mielina serpenteando-os, eles sobem e descem, eles vêm e vão, levam e trazem. Maquinam em silêncio. Qual o melhor lugar para esta palavra? Aqui? Onde ponho essa vírgula? Que trabalho árduo é preencher de sentido o vazio e construir onde antes não havia, escolher o melhor traçado para estas cartas.
Precisamos de água, teremos que mudar o curso de rios. Providenciar energia, aplanar a terra, derrubar árvores, construir tijolos e transporta-los, em trilhos talvez, e com eles erigir paredes e com elas prédios e com estes instituições e com elas virão os muros e para isso, mais tijolos… Qual o melhor lugar para essa igreja? Aqui? Onde ponho esta rua? Que trabalho árduo é construir, civilização.
Caterpilhas, escavadeiras, tratores, eles sobem e descem, eles vêm e vão, levam e trazem. Maquinam. Eles cometem cidades, eles arquitetam os textos. Quem os conduz?